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Calçadistas brasileiros mantêm aposta na Argentina

Por Rodrigo Petry
Atualização:

Empresas brasileiras do setor calçadista, como Vulcabrás/Azaléia e Alpargatas, vão continuar seu processo de expansão no mercado argentino, mesmo com os efeitos da crise financeira internacional. A restrição imposta pelo governo do país vizinho à importação de calçados, que deve se ampliar até 2010, é vista como uma oportunidade de crescimento no mercado local, com fábricas próprias. Os planos de ampliação da capacidade produtiva na Argentina serão mantidos pela Vulcabras/Azaléia, garante o presidente da companhia e da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso. A calçadista, que possui uma unidade na cidade de Coronel Suárez, em Buenos Aires, pretende duplicar a produção local, atualmente em 2,5 milhões de pares, até o final deste ano. O número de funcionários também deve crescer, passando de 3 mil para 5 mil funcionários. Com os investimentos, a Vulcabras/Azaléia pretende ampliar a fatia de produção local vendida na Argentina, dos atuais 30%, para 70%. O restante continuará sendo importado do Brasil. Atualmente, as marcas Olympikus e Reebok são produzidas na unidade localizada no país vizinho, adquirida da Indular Manufacturas, em julho de 2007 por US$ 60 milhões. Para o segundo semestre de 2009, a empresa iniciará a produção de calçados femininos, da Azaléia, com design adaptado ao gosto das consumidoras argentinas. A Vulcabras buscará ainda ampliar a fatia de mercado da Olympikus. Outra empresa brasileira que aposta no mercado argentino é a Alpargatas, que teve aprovada no ano passado, pela Comisión Nacional de Defensa de la Competencia da Argentina (CNDC) - órgão de defesa concorrencial local -, a compra de 60,17% do capital da Alpargatas Argentina. A meta da companhia com a aquisição é ampliar, de 10% para 25%, a participação do mercado externo no resultado consolidado da companhia. O processo de internacionalização da Alpargatas foi iniciado a partir da marca Havaianas, que vem sendo bem-sucedida nas vendas das controladas dos Estados Unidos e da Europa. Já no segmento de artigos esportivos, a aposta é tornar a marca Topper líder da categoria na América Latina. Segundo dados da Latin Panel e Claves Informacion Competitiva, a Topper tem 12% de market share, em termos de volume, na América Latina, atrás somente da Nike. Apenas na Argentina, a fatia é de 32% entre as marcas esportivas. Em relatório a clientes, a corretora Coinvalores destaca que a Alpargatas continuará a implementação das estratégias de crescimento no mercado externo. A corretora avalia que o maior desafio da companhia será aumentar as vendas da Havaianas nos principais mercados consumidores e o posicionamento da Topper como líder em calçados esportivos na América Latina. A baixa alavancagem financeira, diz o documento, pela alta escala de produção e pelas marcas de forte penetração, vai garantir uma boa geração de caixa para manter os planos de crescimento. A Grendene, fabricante das marcas Melissa, Rider, Grendha, Ipanema, Grendene Kids e Grendene Baby, atua no mercado argentino via subsidiária Saddle Calzados. Segundo relatório da Fator Corretora, a participação dos volumes exportados tende a crescer em 2009, na esteira da valorização cambial. O mercado externo responde por 30% das vendas da companhia. A Grendene deve se beneficiar ainda da queda do preço do petróleo, que reduz os custo da aquisição do insumo cloreto de polivinila (PVC), uma das resinas termoplásticas mais consumidas no mundo. O presidente da Câmara de Comércio Argentina Brasileira de São Paulo, Alberto Alzueta, destaca que as empresas brasileiras estavam observando as vantagens cambiais em exportar via Argentina. Segundo ele, a cotação de 3,15 a 3,20 pesos por cada dólar tornava as exportações do produto competitivas nos mercados externos, ao contrário do real, que vinha se valorizando frente à moeda norte-americana - antes do estouro da crise, em setembro. Alzueta ressalta ainda que a entrada das empresas brasileiras de calçados trouxeram competitividade, em termos de design e marketing, aos produtos fabricados na Argentina. O dirigente ressalta que a estratégia de ampliação da atuação na Argentina ocorre como alternativa à perda de participação brasileira nesse mercado, em função do aumento das importações de calçados chineses, que teriam preços inferiores aos custos de produção da América Latina. Além disso, a sinergia entre as unidades do Brasil e Argentina busca atingir outros mercados. Apesar da manutenção dos investimentos, as perspectivas de crescimento no mercado argentino para esse ano serão menores, pelos efeitos da crise internacional. Cardoso, da Vulcabras/Azaléia, avalia que a situação econômica no país vizinho parece ser mais grave do que a vem sendo observada no Brasil. Diante desse cenário, o executivo admite que a produção nas unidades argentinas deve desacelerar em 2009, para um crescimento de 30%, ante a marca de 50% registrada no ano passado. Segundo a Abicalçados, as exportações do Brasil para a Argentina cresceram apenas 1,5% em termos de volume no ano passado em relação a 2007. Houve, no entanto, alta de 10,8%, para US$ 192,9 milhões, em receita.

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