O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio Barros, disse nesta segunda-feira que o câmbio a R$ 2,10 causa perda de rentabilidade em todos os setores exportadores, mas que apesar de existirem perdedores nesse processo, a situação também mostrará vencedores ao final. "Quem são os vencedores? Todos os setores voltados para o mercado doméstico, que dependem da renda do trabalho, da inflação baixa e do crédito abundante. Essencialmente setores com baixo coeficiente de exportação, e há também os setores não transacionáveis, como construção civil, infra-estrutura, comércio e serviços. Todos eles terão um ciclo muito favorável", afirmou, após participar da reunião do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) nesta manhã na capital paulista. Os perdedores, por sua vez, serão os setores que exportam de 50% a 80% de sua produção. "Todos eles vão perder rentabilidade, é claro que isso dói, a não ser aqueles que estão exportando commodities. Teremos dez anos pela frente com preços de commodities internacionais correndo acima do preço dos produtos manufaturados", admitiu. "Também serão perdedores aqueles que estão sendo vítimas do produto importado no País, setores que não se prepararam para isso", disse, ponderando que muitas empresas souberam reagir e se adaptar à situação, mudando de região e fazendo ajustes. Outra exceção, lembrou Barros, são as empresas exportadores que possuem elevado índice de componentes importados em sua produção. "Empresas como a Embraer, por exemplo, que exportam muito mas também importam muito, lidam bem com essa situação porque conseguem mitigar o problema da perda de rentabilidade das exportações pelo fato de comprar componentes importados em condições mais acessíveis", destacou. Para ele, entretanto, o número de empresas não transacionáveis é muito maior que o de empresas transacionáveis do Brasil e, por isso, a importância delas também é maior. "Então eu vejo que, certamente, entre demissões e contratações, vamos ter mais contratações líquidas de mão-de-obra. Esse ciclo que é doloroso, mas vamos esperar um ano ou dois anos para vocês verem de fato o que terá acontecido em termos líquidos na economia brasileira", analisou. A importação de máquinas e equipamentos é vista de forma positiva pelo economista. "Os dados do consumo aparente de bens de capital são espetaculares, e a importação tem muito a ver com isso, pois promove redução de custos", disse. De acordo com Barros, o nível de importação sobre o PIB no Brasil é muito baixo e deve aumentar nos próximos anos. "O Brasil tem que aceitar que, nos próximos anos, teremos um nível de importação sobre o PIB maior do que o que tivemos historicamente. Ainda somos a economia mais fechada do mundo em uma lista de 65 países que monitoro mensalmente", avaliou. "A corrente de comercio sobre o PIB ainda é muito baixa. Temos um espaço grande para a abertura da economia e isso será muito saudável, pois aumentará a produtividade e a eficiência das empresas e, de lambuja, nos ajudará a combater a inflação de uma forma mais consistente." Casos como o da Argentina, que anunciou o aumento das restrições à entrada de geladeiras e fogões brasileiros no país, mostram apenas que o Brasil precisa refletir sobre o foco de suas relações comerciais, disse Barros. "Acho que o Brasil precisa fazer uma aposta um pouco mais ousada em mercados relevantes. A Argentina é muito importante, não há dúvida, mas acho que temos que focar em nossas melhores relações com Estados Unidos e União Européia. Acho que essa é a prioridade", opinou. Segundo ele, ao observar a procedência das importações que chegam ao País, constata-se aumento da participação relativa da China e outros países asiáticos e queda expressiva da presença dos Estados Unidos e União Européia, além do Japão. "Temos um belo saldo comercial e será conveniente reduzi-lo. Aqueles que sonham com um câmbio mais depreciado tem que entender que o real não vai se desvalorizar se a balança permanecer em US$ 45 bilhões, mesmo que os juros caiam a 9% ou 10%, a não ser que estejam defendendo a volta do regime de câmbio fixo, o fechamento do País ou o controle de capitais", exemplificou. Ele fez a defesa do regime de câmbio flutuante adotado pelo País. "O câmbio flutuante é de longe muito superior a qualquer outra modalidade de regime cambial, até porque retira a volatilidade do PIB e transfere a volatilidade para a própria taxa de câmbio. A atividade econômica é muito menos volátil na vigência de um regime de câmbio flutuante", finalizou.