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Câmbio administrado

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Por Redação
Atualização:

Até agora, quem defende uma desvalorização do real (alta do dólar) para devolver competitividade ao produto brasileiro não ousou pedir mudança drástica na política macroeconômica. Ficava nas escaramuças: corte profundo dos juros para desestimular a entrada de dólares que viessem para cá a fim de especular com juros; adoção de um pedágio (taxação) ou de uma quarentena na entrada de capitais de curto prazo; ou maior compra de dólares pelo Banco Central (BC). Nada disso funciona porque a tendência à valorização do real é estrutural e contra ela o BC não consegue se impor com contra-ataques de alcance limitado. Se fosse mesmo para provocar forte desvalorização do real, seria preciso voltar ao câmbio administrado, como está pedindo o ex-ministro Luís Carlos Bresser-Pereira. Mas, para isso, seria preciso desistir não só do câmbio flutuante, mas também da política de metas de inflação. Isso mudaria tudo na economia. Durante quase quatro anos de Plano Real, a economia brasileira teve o câmbio fixo (crawling peg), em que a cotação do dólar em moeda nacional era ajustada de acordo com a inflação. Em 1999, o sistema implodiu e foi substituído pelo regime de câmbio flutuante conjugado com o de metas de inflação. A volta ao câmbio administrado exigiria a definição de um piso ou intervalo entre cotações (banda) do dólar. Sempre que as cotações resvalassem para abaixo do piso ou da banda, o BC teria de comprar moeda estrangeira para defender a cotação desejada. O problema é que a emissão de moeda deixaria solta a política monetária (política de juros). Por certo tempo, o BC poderia emitir títulos de dívida que enxugassem o excesso de moeda nacional. Mas a capacidade de endividamento logo ficaria estrangulada. É o que ocorre na Argentina, onde o banco central é obrigado a defender a cotação do câmbio (hoje em torno de 3,80 pesos por dólar). A emissão de moeda produz inflação e a escolha do governo foi manipular estatísticas para que nem assalariados nem aposentados exigissem reajuste de renda. Da mesma forma, o governo impede que os preços fiquem soltos e isso achata o retorno das empresas. Como não é possível enganar o tempo todo, o empresário argentino parou de investir e a economia deles está parando. Um arranjo com câmbio administrado no Brasil poderia ser mais inteligente do que o argentino, mas, como estabelece o Trilema da Política Macroeconômica, não dá para controlar ao mesmo tempo três variáveis: câmbio, juros e fluxo de capitais. Ao menos uma delas ficará solta, como ocorre hoje com o câmbio aqui. O câmbio controlado deixaria solta a política monetária: os juros seriam os determinados pelo mercado. Os economistas que defendem o câmbio administrado sempre dizem: mirem-se no exemplo da China, onde tudo funciona. O problema é que a China só tem sucesso porque compra todo o excedente de moeda estrangeira e controla o sistema financeiro por meio dos bancos estatais. Mas também é um regime com problemas, uma vez que o aumento de reservas, hoje de US$ 2,1 trilhões, parece próximo de um ponto insustentável. De mais a mais, a atual política deu mais certo do que no tempo do câmbio administrado. Mudar tudo leva o risco de pôr muita coisa a perder. Confira Nada há de errado em que o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, se candidate a um cargo político. O problema está se ele atuar simultaneamente como candidato e como presidente do BC. Não dá para argumentar que Meirelles acumulou um capital de credibilidade nos últimos seis anos e meio e que pode dar-se a esse luxo. Quando foi convidado a assumir a presidência do BC, Meirelles renunciou ao mandato de deputado federal. Além disso, desfiliou-se do PSDB, seu partido de então. Não dá para entender que o critério que prevaleceu em 2003 não valha mais agora.

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