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Câmbio faz exportação perder força na balança

Em 8 meses, importação cresceu mais de 3 vezes: 22,4% ante 6,8%

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Por Fernando Dantas
Atualização:

A valorização do câmbio - na sexta-feira, o dólar fechou a R$ 1,834, a menor cotação em sete anos - está começando a mudar o desempenho externo da economia brasileira. De janeiro a agosto de 2007, as importações cresceram em quantidade três vezes mais do que as exportações. Enquanto as quantidades importadas tiveram uma expansão de 22,4% em relação ao mesmo período de 2006, as quantidades exportadas avançaram apenas 6,8%. Os preços dos produtos exportados, porém, subiram mais, com alta de 9% de janeiro a agosto, comparados com 4,3% para os produtos importados. Com isso, a alta total das importações no ano, combinando preços e quantidades, foi de 27,8%, comparada com 16,3% para as exportações. Nos últimos meses, o Brasil já vem importando mais de meio bilhão de dólares por dia útil, comparado a menos de US$ 200 milhões no primeiro ano do governo Lula. ''''Estamos entrando numa era de redução de superávit. Não se pode esperar que um país que exporta commodities tenha a exportação crescendo sempre'''', diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB). Ele acrescenta que, por causa do peso das commodities na pauta, ''''o Brasil depende de preço, inclusive porque temos limites de infra-estrutura para aumentar as quantidades exportadas''''. Quanto aos manufaturados, acredita que, a permanecer a tendência do câmbio à valorização, na melhor das hipóteses eles mantém o nível atual. Para Ilan Goldfajn, sócio da Ciano Investimentos, e ex-diretor do Banco Central (BC), ''''a balança comercial está caindo mais rápido do que se pensava, por causa do crescimento das importações''''. Ele observa que boa parte da recente valorização do real se deve ao movimento global de desvalorização do dólar. Mesmo que isso não signifique uma perda de competitividade em relação à maioria dos parceiros do Brasil, Goldfajn prevê ''''que as reclamações em relação ao câmbio estão prestes a recomeçar, porque a importação cresce muito rápido e o dólar deve se valorizar''''. A redução do saldo comercial, por sua vez, parece indicar que o superávit em conta corrente (que, além da balança comercial, inclui transações financeiras e de serviços), mantido ao longo dos últimos quatro anos, pode estar caminhando para desaparecer. O superávit em conta corrente já caiu de 1,76% do PIB em 2004 para 1,28% em 2006. Para 2007, em valores, a projeção média do mercado para o superávit em conta corrente, coletada semanalmente pelo Banco Central, é de US$ 10,05 bilhões. A previsão para 2008 é de US$ 3,27 bilhões, e em 2009 está projetado um déficit em conta corrente de US$ 670 milhões. Na verdade, porém, as expectativas podem se alterar rapidamente quando o mercado percebe uma mudança de ventos na economia, e as projeções para o setor externo já parecem indicar o início desse movimento. As previsões médias do mercado para o saldo comercial de 2007 chegaram a um pico de US$ 43,8 bilhões no fim de julho e já recuaram para US$ 42,2 bilhões. A projeção de Castro, da AEB (ele ressalva que ainda é apenas uma estimativa) é bem mais pessimista, ficando em US$ 38 bilhões. Para 2008, as projeções de mercado atingiram um máximo de US$ 37,7 bilhões também em julho, e foram reduzidas agora para US$ 35,5 bilhões. Já o vice-presidente da AEB não crê que o saldo comercial do próximo ano supere os US$ 35 bilhões, podendo até mesmo cair para US$ 25 bilhões. Em termos do superávit em conta corrente, as projeções para 2007 caíram de um pico de US$ 11,6 bilhões no fim de julho para o nível atual de US$ 10,5 bilhões, e as de 2008 saíram no mesmo período de US$ 5,3 bilhões para US$ 3,3 bilhões. Tanto no caso da balança comercial quanto no da conta corrente, as projeções do início do ano eram bem mais baixas, tanto em relação ao pico de julho quanto ao nível atual. Na verdade, até meados de 2007 o padrão parecia ser o mesmo de todos os últimos anos, nos quais o mercado sistematicamente subestimava os números exuberantes da balança comercial brasileira. Agora, porém, pela primeira vez em muito tempo, parece haver de fato uma tendência à retração do saldo comercial. Castro nota que, desde agosto, a média diária das importações (dias úteis) vem se mantendo acima de US$ 500 milhões, enquanto a média diária das exportações estacionou entre US$ 620 milhões e US$ 650 milhões. A média diária das exportações em setembro está em US$ 707 milhões apenas porque, na primeira semana, houve operação de ''''exportação'''' de uma plataforma da Petrobrás (é fabricada no Brasil, comprada pela Petrobrás no exterior, e contratada para operar aqui, sem sair do País). O vice-presidente da AEB estima que as importações devam chegar a pouco menos de US$ 120 bilhões em 2007, e a US$ 130 bilhões em 2008. Na última rodada de projeções do mercado coletadas pelo Banco Central, as projeções são de, respectivamente, US$ 113,4 bilhões e US$ 130,6 bilhões. Quanto às exportações, Castro acha que elas devem chegar a US$ 155 bilhões em 2007 (praticamente a mesma projeção da média do mercado) e a US$ 160 bilhões em 2008. Nesse segundo caso, a projeção média de mercado, de US$ 166 bilhões, é mais otimista. Ele acha que o pequeno crescimento das exportações que prevê para 2008 só ocorrerá em razão de três importantes commodities que o Brasil exporta. A primeira é o petróleo (que o Brasil exporta e importa, por causa das características das refinarias nacionais), em que deve haver aumento da quantidade exportada em 2008. A segunda é o minério de ferro, que caminha para um novo aumento de preço no próximo ano, que pode superar 25%, depois de acumular ganhos de 123% desde 2005. E finalmente a soja, cujos preços se recuperaram recentemente.

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