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Câmbio pode ter inflado operações de crédito

Por FERNANDO NAKAGAWA E ADRIANA FERNANDES
Atualização:

O Banco Central chama atenção para o fato de que o crédito voltou a crescer de maneira um pouco mais forte em março. O chefe do Departamento Econômico da casa, Tulio Maciel, destacou nesta quarta-feira o fato de que a expansão das carteiras de 1,7% no trimestre foi a maior verificada nos últimos meses. Parte desse crescimento visto no fim do trimestre pode ser atribuído à desvalorização cambial, fato que infla as carteiras de crédito em outras moedas, mas que são divulgadas em reais. "Mas, de maneira geral, observamos expansão em março nas concessões em um ambiente de redução de taxas de juros e dos spreads bancários. O movimento (dos juros e spreads) está em linha com o que havíamos citado em situações anteriores que previa essa redução acompanhando a política monetária", disse.Outro fator que influencia positivamente os juros e spreads é a redução da inadimplência em março, que, no caso das pessoas físicas, caiu pela primeira vez desde dezembro de 2010. "Essa tem sido uma variável importante e observamos uma redução da inadimplência em março", disse Maciel, ao comentar que a acomodação do nível dos calotes "é um bom sinal, em linha com a perspectiva de acomodação e reversão que a gente vinha anunciando".InadimplênciaMaciel avaliou de maneira positiva a redução do nível de calote nos empréstimos para pessoas físicas em março. A inadimplência de 7,4%, porém, é considerada elevada. "Mas março mostra que estamos dentro daquele cenário que vínhamos anunciando. A tendência é de acomodação e reversão no médio prazo. Mas é claro que isso não significa redução contínua da inadimplência a partir de agora", disse. Apesar dessa perspectiva, Maciel anunciou que o calote no financiamento de veículos, que já era recorde em fevereiro, voltou a subir no mês passado e agora já atinge 5,7% das operações, nova marca histórica.No crédito para empresas, Maciel também chamou atenção para o fato de que o juro médio praticado em março - de 27,7% ao ano - é o menor desde junho de 2010, quando a taxa média havia ficado em 27,3%. Segundo Maciel, os bancos já estão mais seletivos na concessão de crédito para a compra de veículos. O comportamento, explica ele, melhora o perfil dos clientes que conseguem o financiamento. "Já há algum tempo bancos têm reportado maior rigor na concessão de crédito, maior cautela. Isso implica adesão de tomadores com melhor perfil", disse Maciel. Clientes com melhor perfil explicam o fato de que, a despeito da inadimplência recorde, juros e spreads do financiamento para veículos tenham caído no mês passado. Na média, o juro do crédito para compra de carros caiu de 27% em fevereiro para 26,5% em março. Parte da queda é explicada pela redução dos spreads, que caíram 17,5 pontos para 17,3 pontos no mesmo período. Ou seja, juros caem porque o cliente atual é melhor, tem menor risco de calote, que os consumidores que tomavam crédito anteriormente.O técnico do BC comentou ainda que boa parte da inadimplência recorde em veículos observada em março é gerada por empréstimos concedidos pelos bancos em 2010, especialmente no segundo semestre daquele ano. "Na época, bancos praticavam prazos mais longos, condições de crédito mais favoráveis e tivemos uma expansão mais expressiva nessa modalidade", disse.Ao repetir que prevê redução da inadimplência em breve, Maciel comentou que há vários fatores que sinalizam melhora dos indicadores de capacidade de pagamento do consumidor. "A inadimplência está associada à capacidade de pagar dos clientes. E, nesse sentido, os salários continuam crescendo e o emprego também. Isso vai se refletir na inadimplência mais à frente", disse, ao comentar que também há efeito da redução dos juros e da reversão das medidas macroprudenciais.

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