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Câmbio provoca angústia no governo

Lula está convencido de que não deve fazer movimentos artificiais

Por Rui Nogueira
Atualização:

Inflação e câmbio. Estas duas palavras estão assombrando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas, pelo menos por enquanto, não há pânico nem nos bastidores do Planalto nem entre os membros da equipe econômica. Mas o câmbio, com a contínua queda das exportações e o buraco crescente das contas externas está provocando uma inédita angústia no governo. A síntese das conversas, desabafos e ponderações do presidente, em conversas com assessores do Planalto e interlocutores externos, como empresários e economistas, mostra que os dois problemas são encarados de maneira diferente. O câmbio provoca angústia porque quanto mais o presidente conversa com a equipe econômica e consultores informais, mais ele se convence de que, mesmo com a anêmica balança comercial, não deve fazer nenhum "movimento artificial" para valorizar o dólar. O único ponto desse debate em que Lula, ministros e conselheiros se fixaram até o momento é este: como boa parte do comportamento do dólar, em constante desvalorização mundo afora, tem a ver com o comportamento da economia dos EUA, é o caso de esperar para ver o que vai fazer o sucessor do presidente George W. Bush. Para a inflação, há uma espécie de mantra que percorre corações e mentes do governo e pode ser resumido assim: "Inflação nunca mais, custe o que custar." Presidentes e ministros encaram a inflação como um problema para o qual o governo avalia ter experiência e instrumentos suficientes para combatê-lo. No limite, se preciso for, o governo constrangerá o desenvolvimento para conter a inflação, restringirá o crédito, fará, como disse ao Estado um ministro com gabinete no Planalto, "tudo o que for preciso". O "lulismo"presidencial move-se pela certeza de que para tudo haverá remédio político-eleitoral, até mesmo para a queda de renda e do emprego dos brasileiros - menos para um governo do PT que a oposição culpasse objetivamente pela ressurreição da inflação em doses incontroláveis. O que o Planalto vem debatendo pode ser traduzido assim: enquanto existir o calor da inflação no Brasil, o dólar enfraquecido é forte aliado no combate aos preços aqui dentro; para o buraco das contas externas, o jeito é esperar para ver o que acontecerá após as eleições de novembro nos EUA.

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