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Presidente do BC fala em 'surpresa' com inflação de março e analistas já veem Selic em até 14%

Alta da inflação acima do esperado pode fazer o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, rever a estratégia para a taxa de juros básica

Por Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu nesta segunda-feira, 11, que o resultado do IPCA – índice oficial de inflação – surpreendeu em março e indicou que irá avaliar o movimento para ver se altera a tendência observada pelo Comitê de Política Monetária (Copom).No mercado financeiro, a percepção é de que as declarações aumentam a chance de as altas da Selic – a taxa básica de juros – continuarem além do encontro de maio, para o qual o BC já sinalizou aumento de 1 ponto porcentual, de 11,75% para 12,75% ao ano.

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Em evento do Traders Club e da Arko Advice, Campos Neto citou que grande parte da surpresa com o IPCA de março (1,62%) ocorreu devido a um repasse mais rápido do megarreajuste dos combustíveis das refinarias para as bombas, algo em alguma magnitude antecipado pelo BC. Mas admitiu que também houve aumento acima do esperado em itens como vestuário e inflação fora do domicílio. O IPCA superou o teto da pesquisa do Projeções Broadcast e registrou a maior taxa para o mês desde 1994, antes do Plano Real. Em 12 meses, a inflação oficial acumula aumento de 11,30%.

“Estamos analisando as surpresas e vamos ver se muda algo na tendência. As surpresas se apresentaram também em outros países, em diferentes magnitudes. A realidade é que nossa inflação está muito alta. Os núcleos estão muito altos. Temos comunicado com a maior transparência possível nosso processo de enfrentamento a essa inflação mais alta e persistente. É um tema que vamos discutir nos próximos dias”, afirmou.

Em outro momento, Campos Neto reforçou que o BC está sempre aberto a reavaliar o cenário, se entender que houve mudança, como diz sempre nos comunicados. “Vamos analisar, ver os fatores que estão gerando surpresas inflacionárias e vamos comunicar isso no momento mais apropriado.”

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central; 'nossa inflação está muito alta' Foto: Adriano Machado/Reuters - 9/12/2021

As declarações do presidente do BC foram lidas por parte do mercado como uma mudança de comunicação em relação aos próximos passos da política monetária. Até então, o BC vinha sinalizando que o plano era encerrar o ciclo de alta de juros em maio, com a Selic em 12,75% ao ano. Mas agora os especialistas veem a porta mais aberta para a elevação continuar em junho, algo que já era esperado por parte do mercado.

A economista-chefe do Credit Suisse no Brasil, Solange Srour, afirma que “ficou bastante claro” com a declaração de Campos Neto que “as portas não estão fechadas para alta de juros depois da próxima reunião”. “É algo bem diferente da comunicação prévia.”

Srour já esperava que o ciclo continuasse em junho e agosto, com a Selic terminando o processo de alta em 14% ao ano, considerando dados mais altos de inflação e expectativas inflacionárias também avançando. “Não temos o Boletim Focus, mas acredito que continuem subindo”, disse, em relação às expectativas de inflação. No relatório do BC divulgado antes do início da greve dos servidores, no dia 28 de março, a projeção para o IPCA de 2023, foco da prioritário da política monetária, estava em 3,80%, já bem acima do centro da meta de 3,25%.

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Srour pontua, no entanto, que essa comunicação “mais aberta” sobre os próximos passos de política monetária, dependente dos dados, é mais recomendada para o desfecho do ciclo, ainda mais em um ambiente de elevada incerteza com os efeitos persistentes na inflação da pandemia de covid-19 e da guerra na Ucrânia, além de um risco de alta mais forte de juros em países desenvolvidos, como os Estados Unidos.

Hoje, o presidente do BC destacou que não vê reversão do fluxo de investimentos estrangeiros para o Brasil, mas reconheceu que o processo de alta de juros nos EUA é um risco. Segundo ele, esses aportes têm se refletido na valorização do real, moeda que tem o melhor desempenho do G20 em 2022, mas que a queda do dólar não está refletida ainda nos índices de inflação e favorece pouco as expectativas.

Depois das declarações de Campos Neto, a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, alterou a projeção para o fim do ciclo da taxa Selic de 12,75% para 13,75%, prevendo, além da alta de 1 ponto porcentual já indicada pelo BC em maio, mais dois aumentos de 0,50 ponto porcentual em junho e agosto. Para a economista, além das menções à reavaliação do cenário, pesou também a ausência da sinalização que Campos Neto vinha dando desde a ata do Copom de março. “É uma mudança razoável da comunicação”, avalia Damico.

Já o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Souza Leal, reconhece que o BC deixou a porta mais aberta para o ciclo continuar depois de maio, mas ainda mantém a projeção para Selic em 12,75%. “Acho que as más notícias já vieram com o aumento dos combustíveis e dos alimentos. Se o petróleo se estabilizar ao redor de US$ 100, podemos ter surpresas positivas, e o atual ciclo vicioso se transforma em virtuoso. Agora, tem que ter um viés de alta para os juros. Sem uma melhora das expectativas de inflação, dificilmente o BC para em junho.”

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Guedes diz que Brasil vai controlar inflação

O ministro Paulo Guedes disse hoje que está “confiante” de que o Brasil vai conseguir controlar a inflação antes de nações desenvolvidas. Falando a empresários da Associação Comercial e Empresarial (Acim) de Maringá, o ministro ponderou que os juros reais estão relativamente elevados no Brasil, mas ponderou que a inflação global está ineditamente alta para os últimos anos. 

“Os BCs do mundo todo dormiram no volante, mesmo com nosso BC tendo feito a parte dele. (Banco Central) Foi o primeiro a se mover e colocou os juros no lugar. Os juros estão relativamente elevados em termos reais, mas no Brasil estou convencido de que vamos derrubar a inflação antes das nações avançadas”, disse.

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O ministro disse ainda acreditar que o Brasil fará um dos combates “mais efetivos e mais rápidos” à inflação. Prometeu ainda que o país vai crescer mais do que as previsões de mercado. “Vamos surpreender mais uma vez”. / COLABORARAM BÁRBARA NASCIMENTO E LORENNA RODRIGUES