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Carf anula julgamento que teve propina apontada pela Operação Zelotes

Decisão foi a primeira do conselho envolvendo processos investigados pela Operação Zelotes; anulação deve levar a novos julgamentos em um estoque de casos que somam até R$ 30 bilhões referente a 15 denúncias que estão na Justiça

Foto do author Lorenna Rodrigues
Por Lorenna Rodrigues (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA - O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) anulou nesta quinta-feira, 23, pela primeira vez, um julgamento no qual foram detectadas irregularidades pela Operação Zelotes, da Polícia Federal, que completa dois anos no domingo.

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Após pedido feito pela Corregedoria do Ministério da Fazenda, o conselho declarou nulo o julgamento de processo da Qualy Comércio e Exportação de Cereais. Como já havia adiantado o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, a Fazenda pedirá a nulidade de todos os casos da Zelotes em que houver denúncia do Ministério Público Federal (MPF). Isso pode levar a novos julgamentos um estoque de decisões de até R$ 30 bilhões.

No processo anulado ontem, houve denúncia do MPF, que acusa a Qualy de ter pago propina para ganhar recursos no Carf que renderam mais de R$ 37 milhões em créditos tributários relativos a perdas inflacionárias que a empresa teria acumulado na década de 90 por planos econômicos e mudanças de moeda.

Para garantir decisões favoráveis, os proprietários da empresa teriam pago R$ 4,3 milhões a conselheiros do Carf durante os 11 anos em que o processo tramitou. Propinas pagas por meio de contratos de consultoria, para lavar o dinheiro. O Carf entendeu que o conselheiro Leonardo Manzan não poderia ter participado do julgamento de um recurso da empresa porque tinha interesses no processo. Manzan é genro do ex-presidente do Carf Otacílio Cartaxo, denunciado na Zelotes.

De acordo com a investigação, que embasou o pedido da corregedoria da Fazenda, a Qualy contratou uma empresa de consultoria para o caso, que subcontratou outra empresa, do pai de Leonardo Manzan. No pedido de nulidade, a corregedoria apresentou documentos como ligações entre Manzan e funcionários da Qualy e depósitos de mais de R$ 1 milhão que seriam propinas pagas.

O presidente da 3ª turma da Câmara Superior do Carf, Rodrigo Possa, explicou que cabe ao órgão analisar se o julgamento deve ser anulado por ter tido a participação de um contribuinte impedido, e não a questão criminal. “Pelo regimento do Carf, quando um conselheiro participa sem poder, o julgamento é nulo.” O julgamento anterior, de 2011, foi anulado pelo Carf por unanimidade. O processo será sorteado novamente entre os conselheiros da turma. A reportagem não localizou representantes da empresa para comentar a decisão.

O primeiro pedido de nulidade da corregedoria da Fazenda foi analisado pelo Carf no mês passado, mas o órgão manteve o julgamento anterior. O processo envolvia autuação do empresário Walter Farias, dono da Cervejaria Petrópolis, no valor de R$ 8,6 milhões, e há suspeita de pagamento de propina a conselheiros para reduzir a multa. A assessoria do empresário informou que o processo contra ele foi arquivado na Justiça e continua só contra outras partes. Já foram feitas 15 denúncias pelo MPF na operação, que somam pelo menos R$ 30 bilhões.

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