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Viagem com carro voador 'vai ser acessível', diz co-CEO da Eve, startup da Embraer

André Stein diz que cidade de São Paulo tem potencial para 400 a 500 veículos elétricos de voo nos próximos 15 anos

Por Juliana Estigarríbia
Atualização:

Os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOLs, na sigla em inglês), também conhecidos como “carros voadores”, continuam sendo um conceito distante da população. Para a EVE, entretanto, o negócio já é uma realidade. A startup aposta na experiência da Embraer, sua controladora, para liderar a corrida por esse mercado e, mesmo em um cenário desfavorável de inflação global e incertezas causadas pela guerra na Ucrânia, está otimista com os planos de abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) na Bolsa de Nova York no segundo trimestre.

“O panorama geral é desafiador para todo mundo. Vemos isso como uma maratona. Neste momento não somos afetados diretamente pelas flutuações do mercado, mas se estivéssemos operando hoje o impacto seria maior. Não vejo arrefecimento do segmento de mobilidade urbana, muito pelo contrário”, afirmou o co-CEO da EVE, André Stein, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Co-CEO da EVE, André Stein,diz que cidade de São Paulo tem potencial para 400 a 500 veículos elétricos de voo nos próximos 15 anos Foto: Leo Souza/Estadão

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Concorrentes da EVE que abriram capital em Nova York no ano passado, como Archer e Joby, tiveram quedas acentuadas de suas ações, em meio às incertezas do mercado global, com o investidor buscando opções mais tradicionais. Em relatório publicado no começo do mês, os analistas do Citi Stephen Trent, Brian Roberts e Filipe Nielsen demonstraram ceticismo em relação ao IPO planejado pela EVE e a sua estimativa de desempenho operacional.

Para Stein, todos os setores da economia estão sofrendo no cenário atual. “Nosso mercado não está caindo mais que os outros, o segmento continua proporcionalmente aquecido. Mas vai começar a acontecer uma separação natural entre as empresas com bom e mau desempenho. Temos uma história sólida e continuaremos com prioridade no desenvolvimento de soluções", diz ele.

A EVE anunciou na sexta-feira uma parceria com a Acciona, de soluções sustentáveis, para o desenvolvimento de um ecossistema de mobilidade aérea urbana. O acordo prevê desembolso de US$ 30 milhões da espanhola, que deve se juntar ao grupo de investidores estratégicos que atualmente apoiam o plano de negócios da companhia brasileira. Os investimentos somados na EVE após a conclusão do IPO totalizam US$ 549 milhões.

“Esse novo investimento ratifica a confiança do mercado na EVE. Além do aporte, que é significativo, a Acciona é uma parceira que tem pegada ambiental muito positiva”, diz Stein. “Essas parcerias são importantes porque a EVE e a Embraer não vão fazer esse ecossistema sozinhas, a filosofia é trabalhar com empresas que poderão construir isso de forma conjunta."

Carro voador da Embraer; aestimativa de receita da EVE é de US$ 4,5 bilhões em 2030 e sua carteira de pedidos atual é de 1.785 unidades Foto: Reprodução/EVE/Embraer

Segundo Stein, o cronograma para o IPO está “dentro do planejado”, com as tratativas com a SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) indo “muito bem”. A listagem da EVE em Nova York ocorrerá por meio de uma combinação de negócios com a Zanite - empresa norte-americana de propósito específico de aquisição (Spac, na sigla em inglês) voltada ao setor de aviação - com valor implícito de US$ 2,4 bilhões. Após o IPO, a Embraer permanecerá como acionista majoritária com participação de aproximadamente 82% na EVE Holding.

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A estimativa de receita da EVE é de US$ 4,5 bilhões em 2030. Sua carteira de pedidos atual é de 1.785 unidades. “Hoje, no mercado, não há uma concorrente com o nosso modelo”, afirma Stein. Segundo ele, a EVE tem como grande diferencial o acesso à engenharia da Embraer, que vai ajudar no desenvolvimento do produto, bem como à experiência da fabricante em certificação de aeronaves. Além disso, a startup poderá usufruir das estruturas da Embraer, como a de Gavião Peixoto (SP), que possui um centro de testes reconhecido internacionalmente.

“Essa complementaridade é única. O conceito é juntar o melhor dos dois mundos, aliando a experiência da Embraer e a agilidade de uma startup, até para trazer investidores”, afirma Stein.

Ecossistema de mobilidade

A EVE informou também na semana passada ter formado um consórcio para desenvolver soluções de mobilidade aérea urbana em Miami, na Flórida. O conceito, segundo Stein, visa desenvolver soluções que poderão ser usadas para além do universo da EVE. A empresa vem usando uma ferramenta desenvolvida juntamente com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) para modelar, por exemplo, qual seria a melhor malha para operação em Miami - de forma detalhada.

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“Em Miami, chegamos a 88 rotas e 32 ‘vertiportos’. Estimamos que São Paulo tenha quase o dobro desse potencial de mercado”, diz Stein. O “vertiporto” será um local destinado à operação dos eVTOLs. “Estamos mapeando diversas cidades para criar uma planta baixa de como seria a operação e podemos aplicar esse conceito para várias comunidades.”

A EVE está desenhando o eVTOL para caber nos helipontos atuais, mas com especificidades como estrutura de carregamento. Adicionalmente, os vertiportos precisarão estar distribuídos nos melhores pontos das cidades, o que não acontece atualmente com os helipontos tradicionais. Para Stein, existem várias razões para o helicóptero não ter um grande nível de penetração, como custos de combustível e manutenção, além do ruído, que limita a operação.

“Nos últimos anos, a aviação comercial vem sendo democratizada e a ideia é que o eVTOL chegue bem próximo (do custo) do transporte terrestre. A viagem vai ser acessível”, estima.

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Isso se deve, de acordo com ele, ao modelo do negócio, parecido com o da aviação comercial e executiva, em que uma empresa opera os aviões. “Com isso, o eVTOL fica automaticamente mais acessível, mas queremos dar uma opção de mobilidade e não necessariamente substituir alguma delas”, diz. “Com o avanço do trabalho remoto, por exemplo, esse conceito se torna mais interessante."

Conforme Stein, a cidade de São Paulo tem potencial para 400 a 500 eVTOLs nos próximos 15 anos. “A ideia é trazer mais uma opção de mobilidade, mas não vamos ter uma mancha no céu.”

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