PUBLICIDADE

Publicidade

Casas de câmbio no exterior utilizam real pré-crise para lucrar

Lojas lucram às custas de emigrantes brasileiros que querem enviar dinheiro para suas famílias residentes no País

Por Jamil Chade e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

Há alguém que está ganhando com a desvalorização do real: as casas de câmbio estabelecidas no exterior e que são usadas pelos brasileiros para enviar dinheiro ao País. A reportagem do Estado percorreu de forma anônima as principais casas de remessas em Genebra e constatou que ainda estão usando o câmbio anterior à crise e lucrando às custas dos emigrantes brasileiros no exterior. Em uma das lojas, os lucros são tão grandes que a empresa dá ao cliente de primeira viagem uma pizza, de qualquer sabor. Veja também: BC atua com força e dólar fecha em queda de 3,15% Consultor responde a dúvidas sobre crise   Como o mundo reage à crise  Entenda a disparada do dólar e seus efeitos Especialistas dão dicas de como agir no meio da crise A cronologia da crise financeira  Dicionário da crise  De acordo com dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as remessas de brasileiros para o País em 2007 somaram US$ 7,1 bilhão (R$ 12 bilhões), contra US$ 7,4 bilhões em 2006. Em toda a América Latina, esse valor deve chegar a mais de US$ 66 bilhões em 2008. Na Suíça, os principais usuários dessas casas de remessas são brasileiros que vivem de forma irregular na Suíça e que não tem condições de abrir uma conta em um banco. São faxineiras, garçons e pedreiros brasileiros que economizam a duras penas seus salários para ajudar na renda da família que ficou no País. Mas desde que a crise começou, parte de seu salário está ficando nas mãos dessas casas de câmbio. Nesta quinta-feira, um franco suíço estava cotado à R$ 1,95 nos principais bancos de Genebra. Curiosamente, as três principais casas de remessas de dinheiro cobravam exatamente o mesmo câmbio, mas com mais de 20% de diferença. No escritório da EBU, em Genebra, a cotação era R$ 1,76 para cada franco. Portanto, para cada mil francos que um brasileiro tente mandar ao País, a conta de sua família no Brasil receberá apenas R$ 1.760,00, e não R$ 1.950,00. Em apenas uma operação, a casa de remessas fica com R$ 190,00. Na empresa Swiss Transfer, a funcionária que atendeu o telefone se recusou a passar o câmbio. "Não podemos fazer isso pelo telefone", afirmou. Questionada sobre o motivo, apenas respondeu que a taxa estava "muito volátil no Brasil" e que o assunto teria de ser tratado "pessoalmente". Depois de muita insistência, ela resolveu revelar: R$ 1,70 para cada franco enviado. "Mas podemos conversar, dependendo do valor que o sr. for enviar", explicou a funcionária. Em outra casa, a proposta é ainda mais indecorosa. Na LCC, o cliente que mandar pela primeira vez o dinheiro pelo sistema de remessa da casa ganha grátis uma pizza. "O sr. pode escolher o sabor", afirmou a funcionária, pelo telefone. O problema é que a pizza está ficando barata para a empresa. A LCC oferece enviar o dinheiro, que estaria depositado em qualquer conta no Brasil em 24 horas. O câmbio seria de R$ 1,77 para cada franco enviado. Mas o envio de mais de 3 mil francos teria uma taxa de R$ 1,80. Mas quem quisesse o dinheiro no Brasil em apenas duas horas, a empresa também garante que isso é possível. Salvo que o câmbio é de R$ 1,65 para cada franco, um spread de 30% em relação ao valor oficial das duas moedas. Polêmica Nos últimos anos, o número de casas de remessas para enviar dinheiro ao Brasil explodiram na Europa. Mas isso não significa que o dinheiro que é dado às casas são os mesmos que chegam no Brasil. A maioria delas trabalha com um esquema de compensação. Uma conta no Brasil é que faz todas as movimentações para os destinatários do dinheiro. Na Suíça, a casa de remessa apenas fica com uma conta limpa com o dinheiro depositado por faxineiros, pedreiros e outros trabalhadores que não sabem nem o que estão financiando e nem quem está sendo beneficiado por seus recursos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.