A cautela ainda prevalece entre os investidores internacionais nesta manhã de quarta-feira, 9, mas já sem o tempero de aversão mais acentuada ao risco que caracterizou os negócios na terça-feira. A precaução é mantida pelos temores renovados com as finanças públicas no exterior, pela ainda incômoda situação de Dubai e pela fraqueza da economia do Japão.
Esse cenário deixa as bolsas europeias em queda. No entanto, as principais moedas da região encontram forças para quebrar a onda de valorização do dólar, o que favorece o petróleo.
Às 7h38 (de Brasília), as bolsas de Londres (-0,48%), Paris (-0,58%) e Frankfurt (-0,74%) recuavam. Mas o euro (+0,28%, a US$ 1,4762) e a libra (+0,29%, a US$ 1,63054) conseguiam subir. Na comparação com o iene, o dólar perdia 0,78%, a 87,72 unidades. No mesmo horário, o petróleo subia 1,21%, para US$ 73,51, no pregão eletrônico da Nymex.
Os temores com os déficits públicos criados pela crise estão novamente no centro das atenções. A situação da Grécia já vinha sendo acompanhada há semanas na Europa e as preocupações culminaram ontem com o rebaixamento do rating do país pela Fitch.
"Nós julgamos mal o ambiente de risco ontem, quando o rebaixamento da Grécia trouxe a questão da sustentabilidade das dívidas de volta à cena", diz Chris Turner, estrategista de câmbio do ING. Ele nota que o país tem um pagamento relevante de cupom em 20 de abril, no valor de 8,2 bilhões de euros. Antes, disso, no entanto, tem um calendário agressivo de emissões em janeiro e fevereiro. "Não há dúvida de que esses leilões serão a chave para o sentimento e podem ser vistos como um tema poderoso para o ano novo."
Os questionamentos não se restringem à Grécia. A Moody's afirmou que os Estados Unidos e o Reino Unido precisam provar que podem reduzir o déficit para evitar ameaças às notas AAA.
O governo britânico mostrará sua estratégia de combate hoje, ao divulgar o pré-Orçamento. O ministro de Finanças do Reino Unido, Alistair Darling, tem um dilema pela frente: arrumar as finanças públicas sem estrangular o processo de retomada, que é especialmente lento no país, ainda em recessão no terceiro trimestre.
Conforme o jornal The Times, Darling admitirá que o Reino Unido enfrentará uma era de forte redução de gastos, no entanto protegerá áreas prioritárias, como saúde, educação e segurança. "Um compromisso crível sobre a sustentabilidade fiscal será importante para dissipar as preocupações do mercado e das agências de rating", acreditam os especialistas do UniCredit.
O Financial Times traz a informação de que o governo vai criar um imposto sobre o pagamento dos bônus milionários aos executivos, como resposta à fúria pública sobre a remuneração no setor financeiro. Para Alan Clarke, do BNP Paribas, essa taxação trata-se de "tática política", pois criaria arrecadação relativamente pequena.
Nesse ambiente, também retornaram notícias negativas envolvendo Dubai. Em meio a dúvidas sobre a reestruturação da dívida, a Moody's rebaixou os ratings das companhias controladas pelo governo ontem. Hoje, mais duas informações sobre o emirado precisam ser digeridas. A unidade imobiliária do Dubai World, a Nakheel, anunciou prejuízo de US$ 3,4 bilhões no primeiro semestre. Além disso, o Financial Times diz que a situação enfrentada pelo conglomerado pode disparar uma cláusula de pagamento antecipado para a prestadora de serviços de energia e água do emirado, no valor de US$ 2 bilhões, neste mês.
Não ajuda o ambiente a revisão em baixa do PIB do Japão no terceiro trimestre. A alta de 1,2% divulgada inicialmente foi alterada para número bem menor, de +0,3% - abaixo da previsão de 0,6% dos analistas na Dow Jones.
A agenda internacional não é pesada hoje. Nos Estados Unidos, os destaques são as vendas e estoques do setor atacadista em outubro (às 13 horas, de Brasília) e os estoques semanais de petróleo (13h30).