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CCCC quer unir porto e ferrovia no Brasil

Gigante chinês, que comprou 80% da Concremat, quer expandir em logística

Por Monica Scaramuzzo e Renée Pereira
Atualização:

Pouco conhecida no Brasil, a gigante China Communications Construction Company, chamada de CCCC, tem planos ambiciosos para o mercado brasileiro. Entrou de maneira modesta no fim do ano passado, com a compra de 80% da construtora Concremat Engenharia, por R$ 350 milhões, mas tem um cheque de R$ 40 bilhões para investir nos diversos setores da infraestrutura, como portos, rodovias e ferrovias, apurou o Estado com fontes a par do assunto.

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Na semana que antecedeu o feriado de carnaval, o alto escalão da gigante chinesa – uma das maiores companhias de infraestrutura daquele país – esteve no Brasil para conferir os últimos trabalhos. Com uma lista extensa de ativos sendo analisados para aquisição, essas visitas devem se tornar cada vez mais frequentes.

Com um faturamento global de quase US$ 60 bilhões por ano e mais de 100 mil empregados na China, a CCCC tem feito investimentos pesados fora do país – como projetos imobiliários nos Estados Unidos e de infraestrutura em países asiáticos. Agora, mira o Brasil porque vê a oportunidade de avançar em portos e ferrovias. Há uma certa cautela com as investigações de corrupção em contratos públicos, mas esse fator não impede a companhia chinesa de fechar negócios.

Porto. Nos últimos meses, executivos chineses começaram a caçar ativos e devem anunciar em breve importantes investimentos. Um deles será o do porto multimodal de São Luís (MA), que está sendo feito em parceira com a construtora WTorre. A CCCC pretende fazer um aporte de cerca de R$ 1,7 bilhão no projeto. Procurada, a WTorre não comentou o assunto.

O projeto do porto de São Luís é o primeiro passo que o grupo quer dar para se unir com ferrovias. A CCCC tem interesse na Ferrovia Norte-Sul, na Transnordestina e na Ferrogrão (que ainda não saiu do papel, mas tem o objetivo de escoar a produção de grãos do Centro-Oeste pelos portos da Região Norte). Nenhum contrato foi fechado ainda, mas já há conversas em andamento.

No caso da Transnordestina, que tem a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) como controladora do projeto, representantes da empresa tiveram conversas em Brasília. A ideia seria ter o governo como sócio, mas ainda há uma pendência entre a União e a CSN que precisa ser resolvida primeiro. A companhia de Benjamin Steinbruch está em busca de um parceiro para o negócio.

A CCCC também não descarta entrar como investidora na Malha Sul, que pertence à Rumo ALL, do Grupo Cosan, afirmaram fontes. A Rumo contratou o Bank of America Merill Lynch para assessorar a operação. “A CCCC tem um cheque de R$ 40 bilhões para investir no Brasil. Obviamente, nem todo o dinheiro será usado, mas o grupo tem interesse em vários empreendimentos. A Malha Sul é um deles”, disse uma fonte familiarizada com o tema.

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No início de abril, a companhia pretende se apresentar oficialmente ao mercado brasileiro. Vai fazer uma festa para comemorar a aquisição da Concremat Engenharia – uma construtora pequena no mercado brasileiro, que faturou R$ 930 milhões em 2015. No ano passado, a chinesa chegou a flertar com o grupo Camargo Corrêa para comprar uma fatia da empreiteira. As conversas, no entanto, não foram adiante.

A relação do grupo com o Brasil ficou mais estreita em 2014, quando o grupo chinês firmou uma joint venture com o Modal e o banco australiano Macquarie para criar a MDC. Essa empresa tem a finalidade de investir em projetos de infraestrutura na América do Sul.

Internacionalização. No fim do ano passado, o braço de investimento imobiliário do CCCC firmou uma joint venture com o investidor americano Stephen Ross para construir um complexo imobiliário em Los Angeles. Os investimentos devem somar cerca de US$ 950 milhões. Em novembro, a gigante chinesa assinou acordo para investir em ferrovia na Malásia, estendendo seus domínios no continente asiático.

Procurado pela reportagem, Hin Lin não quis comentar os planos da companhia. O Modal também foi procurado, mas preferiu não se manifestar.