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Ceagro Agrícola não entrega soja e deixa de pagar R$ 800 milhões a credores

Bancos como BTG, Itaú, Santander, Votorantim e Credit Suisse perdem garantias dos contratos de venda do produto e figuram no rol dos credores da empresa; briga está na Justiça, mas companhia tenta ainda negociar reestruturação

Por Josette Goulart
Atualização:
Comercializadora de milho e soja Ceagro alega que câmbio é o grande responsável por dificuldades financeiras Foto: Divulgação

A Ceagro Agrícola, comercializadora brasileira de milho e soja, deixou de pagar nos últimos dois meses cerca de R$ 800 milhões para bancos e detentores de bônus externos da companhia. Com garantias de contratos de venda de soja que acabaram não se concretizando, os bancos partiram para a Justiça para bloquear os bens do dono da empresa, Antônio Carlos Gonçalves. Apesar do embate jurídico, a Ceagro acredita que pode chegar a um acordo com os bancos.

Mas, de acordo com os advogados que representam algumas das instituições, a ordem é "partir pra cima". Um dos motivos seria o fato de as garantias dadas pela empresa terem se dissipado durante a última safra, depois que a companhia deixou de entregar a soja que havia comprado de produtores e vendido ao exterior. A empresa alega problemas financeiros e de câmbio. Os bancos questionam se a soja que deveria honrar os contratos dos empréstimos não foi desviada para outros fins. A empresa comercializou 2,5 milhões de toneladas da commodity no ano passado. As dívidas da Ceagro estão em dois grupos. Um deles é o de detentores de bônus, que estão sem receber os juros dos R$ 300 milhões em títulos desde o fim de maio deste ano. O outro grupo, mais robusto, é o de bancos que tem R$ 500 milhões a receber. Quase a totalidade deste crédito foi concedida por meio de uma linha de financiamento à exportação conhecida como "Adiantamento de contratos de câmbio", ou ACC. Nesta modalidade de crédito, o banco adianta para a empresa o dinheiro que ela vai receber do produto que está vendendo, recebendo como garantia o contrato desta venda. O problema da Ceagro foi que a empresa não cumpriu boa parte dos contratos que estava atrelada ao financiamento bancário, ou seja, não entregou a soja que vendeu e, assim, o comprador não pagou. Uma das maiores empresas comercializadoras do mundo, a Bunge, foi envolvida no episódio. O grupo era quem garantia os contratos, segundo consta nos processos judiciais movidos pelo BTG Pactual, Credit Suisse e Banco da China. Os bancos alegam que as dívidas, que juntas somam cerca de R$ 170 milhões, eram garantidas por contratos feitos com a Bunge. O gerente jurídico da Bunge no Brasil, Frederico Favacho, disse ao Estado, no entanto, que apenas R$ 36 milhões fazem parte dos créditos representados por contratos com a empresa. Este valor foi depositado em juízo no processo movido pelo BTG.Tentativa de acordo. O diretor jurídico da Ceagro, Arthur Franco, diz que não há qualquer fraude no processo de venda da soja. A dívida total da empresa soma R$ 800 milhões, segundo ele, e que o câmbio teria sido o grande responsável pelo "status de default" em que se encontra, além de investimentos errados em logística. Em outubro de 2014, o dólar estava em R$ 2,40 e, no vencimento da dívida, em R$ 3,10. Segundo Franco, a dívida ficou insustentável. "Os bancos entraram com a execução porque precisam fazer isso, mas estamos todos em mesa de negociação com um plano que está sendo estruturado pela KPMG e o escritório Felsberg Advogados", diz Franco. Nos processos judiciais, alguns bancos dizem que a dívida relatada pela Ceagro foi de R$ 1,3 bilhão. E que a empresa informou que o balanço de 2014 irá demonstrar um patrimônio líquido negativo de R$ 500 milhões. Na lista dos bancos, entre os maiores credores está o Indusval, que tem uma parceria com a empresa para comercialização de Cédulas do Produtor Rural. Grandes bancos também estão na lista. Por ordem de valores a receber estão: ABN Amro, Votorantim, Itaú BBA, Credit Suisse, BTG Pactual, Santander e Banco da China. Todos foram procurados para se pronunciar por meio de advogados ou assessorias de imprensa. Nenhum deles quis fazer comentários. ABN e Santander não retornaram.

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