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Cenário incerto e calote impedem corte maior, dizem bancos

Instituições financeiras argumentam que não é possível acompanhar o ritmo dos cortes anunciados pelo BC

Por BRASÍLIA
Atualização:

Os bancos reconhecem que o juro ao consumidor não tem acompanhado a queda da taxa Selic. Instituições financeiras argumentam que não é possível seguir o ritmo dos cortes anunciados pelo Banco Central porque há mais risco no atual cenário econômico graças à falta de definição da crise econômica internacional, à desaceleração da atividade no Brasil e, principalmente, à inadimplência, que subiu para o pior patamar em mais de dois anos.Uma redução mais pronunciada dos juros deve vir apenas a partir do 2.º trimestre de 2012, prevê entidade do setor. "De agosto para cá, tivemos uma clara deterioração do cenário externo e ainda os efeitos das medidas de restrição ao crédito adotadas no fim de 2010 e primeiro semestre de 2011. Além disso, houve piora do quadro interno com desaceleração da atividade econômica, menor confiança e inadimplência maior. Tudo isso afeta as taxas de juros", diz o economista sênior da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Jayme Alves. Para a entidade que representa os bancos, o conturbado quadro externo e a piora da economia doméstica exercem tamanha força que praticamente anulam o efeito positivo da queda da taxa Selic e da reversão das medidas de contenção do crédito, anunciada em novembro. Nesse jogo de forças, portanto, o trabalho do governo não era, até o fim do mês passado, suficiente. Pacote. Talvez exatamente por isso a equipe econômica anunciou em 1.º de dezembro novo pacote com mais medidas para a compra no varejo via financiamento voltado ao consumo. Entre os fatores que impedem o barateamento do crédito, a inadimplência tem ganhado força. Dados do Banco Central mostram que no crédito de loja, por exemplo, 13,8% das operações têm parcelas atrasadas há mais de três meses, pior índice desde outubro de 2009. No financiamento para veículos, o calote é o maior desde setembro de 2009 e no crédito pessoal, desde agosto daquele mesmo ano. "Ainda que o ritmo não seja tão acelerado, a inadimplência continuou em trajetória ascendente, o que gera custos e dificulta o repasse da Selic menor ao consumidor", diz o economista da Febraban. Outro fator que explicaria as oscilações de juro é a inclusão de novos clientes nos bancos. Fonte ligada a uma das instituições explica que consumidores de menor renda têm, potencialmente, maior risco de inadimplência por aspectos como maior comprometimento da renda e rotatividade no mercado de trabalho.Por isso, explica, quando uma instituição adiciona muitos clientes com esse perfil - caso dos bancos públicos -, o risco da carteira aumenta e a casa passa a cobrar juros maiores. A fonte também afirma que a metodologia usada pelo Banco Central tem alguns critérios que poderiam provocar distorção, especialmente nas linhas para o consumo, cujo juro é muitas vezes calculado por dia, e não por mês. Início do ano. Jayme Alves, da Febraban, lembra ainda que tradicionalmente o início do ano apresenta piora da inadimplência graças aos gastos como matrícula e material escolar, impostos e compras feitas no fim do ano. Se os indicadores piorarem logo no início de 2012, e mesmo que a Selic continue em queda, a redução do juro ao consumidor continuará dificultada. "Se a inadimplência aumentar, o repasse nas taxas realmente poderia ser postergado mais para o segundo trimestre." A previsão, ressalta, leva em conta certa tranquilidade no quadro exterior. "Porque, se houver uma ruptura, algo grave no exterior, o recuo das taxas pode ser postergado". Bancos públicos. A Caixa afirma que as oscilações no juro apresentadas podem decorrer "das condições contratadas no período avaliado". De acordo com o banco estatal, as taxas variam conforme o valor do financiamento, inadimplência, relacionamento entre o consumidor e a instituição, entrada de novos clientes, entre outros aspectos."A Caixa busca trabalhar com as menores taxas do mercado e irá reduzi-las sempre que for possível", diz o banco. O Banco do Brasil informou que cortou os juros ao consumidor em quatro situações desde julho e vai diminuir novamente se o Banco Central decidir por novas reduções da taxa Selic. Procurados, Bradesco, Itaú e Santander não responderam aos pedidos de entrevista feitos pela reportagem. / F.N.

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