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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Certa recuperação na indústria

Indicadores mostram que a indústria agora está voltada a recompor estoques de peças, componentes e insumos para atender a uma demanda que ficou reprimida

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Atualização:

Alguns indícios sugerem que está em curso certa recuperação da produção industrial. Nesta quarta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, em março, a atividade da indústria ultrapassou o nível de imediatamente antes da pandemia. Cresceu 10,5% sobre março de 2020, mês em que a sociedade começou a se dar conta da gravidade da covid-19. Mas caiu 2,4% em comparação com fevereiro, que já havia registrado perda de 1,0% em relação ao mês anterior. No acumulado do primeiro trimestre, o crescimento da indústria foi de 4,4%. (Veja o gráfico.)

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Os números da balança comercial de abril apontam consistências com essa recuperação. As importações da indústria de transformação cresceram 42,6% sobre abril de 2020. No primeiro quadrimestre (sobre igual período do ano anterior), o avanço foi de 12,6%. Também de janeiro a abril, as importações de bens intermediários evoluíram 25,6%. São números que mostram a indústria agora voltada a recompor estoques de peças, componentes e insumos para atender a uma demanda que ficou reprimida.

As próximas estatísticas deverão mostrar a maior força do varejo que, logo em seguida, deverá puxar a produção. Ajudaessa tendência o dinamismo da economia mundial, especialmente dos Estados Unidos e da China, duas caldeiras em forte atividade. A disparada dos preços das commodities no mercado global (petróleo, minérios e alimentos, como sojamilho) é demonstração disso.

Ainda não dá para garantir que seja sustentável a recuperação em “V” que o ministro da EconomiaPaulo Guedes, vem cantando há meses ao som de seu fagote. Há incertezas no ar.

O recuo da indústria em março, como mostram os dados do IBGE, foi disseminado. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A maior delas é o risco do efeito Índia. Ninguém sabe até que ponto o Brasil está vulnerável às novas variantes do coronavírus. Hoje, a mais importante medida de política econômica é a vacina. Embora atrasada e muito lenta, há indícios de que a imunização da população brasileira começa a produzir efeitos, mas não há segurança sobre sua eficácia na proteção contra as novas cepas. Se a pandemia se agravar, novas paralisações ficarão inevitáveis e, com elas, o recuo da indústria.

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Outras incertezas não podem ser omitidas. É o negacionismo do governo federal diante da pandemia que joga contra o combate ao vírus. É a deterioração das contas públicas (questão fiscal), a leniência com o agendamento das reformas, o desgoverno na área ambiental, a falta de rumo e a falta de chão político de um governo agora nas mãos do Centrão.

Sempre que se fala em recuperação vem a pergunta: e o emprego? Dá para contar com a criação de postos de trabalho? Certamente dá, porque a economia vem operando muito enxuta. Mas, sem ilusões. Se o setor produtivo aprendeu algo na pandemia foi a necessidade de investir em tecnologia, automatizar linhas de produção, remodelar a logística e cuidar de maior integração de produção e distribuição. Tudo isso conduz não só à redução de pessoal. Empurra o sistema para o redesenho das relações de emprego, que não será mais o mesmo.CONFIRA 

O recado do Copom

A principal novidade não foi a alta de 0,75 ponto porcentual nos juros básicos (Selic) para 3,5% ao ano. Esse movimento era esperado porque havia sido avançado pelo Banco Central na reunião anterior. A principal novidade foi o aviso do comunicado de que pretende nova alta de 0,75 ponto porcentual na próxima reunião do Copom, agendada para 16 de junho, o que elevaria a Selic para 4,25% ao ano. E, como sempre, o Banco Central adverte que essa disposição pode mudar se as circunstâncias o exigirem. 

CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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