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Chávez diz que ajuda do FMI é ?veneno mortal?

Por Agencia Estado
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O mundo está de cabeça para baixo, e os programas de ajuste estrutural do Fundo Monetário Internacional (FMI) são um "veneno mortal", que levam morte, guerra, golpes de Estado e convulsão aos países do Terceiro Mundo, disse nesta quinta-feira o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na abertura da sessão presidencial da Conferência sobre o Financiamento ao Desenvolvimento. Como primeiro chefe de Estado a discursar, Chávez destoou completamente do tom moderado e consensual que vem caracterizando não só o documento final, já aprovado, do encontro, mas a maioria dos discursos de tecnocratas e chefes de Estado. Chávez disse estar falando em nome do Grupo dos 77 (na verdade, 135 países em desenvolvimento), do qual é presidente, e dos pobres do mundo, incluindo os 200 milhões no mundo desenvolvido e ex-países comunistas. Dizendo que a Venezuela pagou nos últimos três anos US$ 13 bilhões em juros da sua dívida externa, "apesar da pobreza", Chávez acrescentou que o mundo em desenvolvimento como um todo teria pago nos últimos anos US$ 800 bilhões de juros e US$ 800 bilhões em capital, e a dívida continuou a crescer. "Que monstro estranho é este, que se paga e se paga, e não baixa, continua a crescer", perguntou Chávez. Chávez fez várias sugestões para consertar o mundo que, na sua opinião, está sendo destruído. "O mundo como está não é viável no longo prazo", disse o presidente da Venezuela. Ele sugeriu a constituição de um Fundo Humanitário Internacional. Comparando-o com o FMI, disse que "só é preciso mudar uma letrinha". O fundo seria financiado com 10% dos pagamentos da dívida externa dos países em desenvolvimento, e 10% dos gastos militares, e com os confiscos de propriedades do narcotráfico e do crime organizado. Chávez criticou a escalada de gastos militares em "tanques de guerra, aviões e bombas inteligentes". Chávez propôs também que fosse oficialmente declarado um "estado de emergência social" no mundo. Ele criticou a falta de ação que teria se seguido a muitas conferências e declarações da ONU nas últimas décadas. Depois da Conferência do Meio-Ambiente no Rio de Janeiro em 1992, disse Chávez, 250 mil espécies de plantas e animais desapareceram, a destruição de florestas tropicais prosseguiu, solos se desertificaram e "o clima está sofrendo as mais atrozes mudanças em dez mil anos". O presidente da Venezuela citou também as metas da Declaração do Milênio, de setembro de 2000, pela qual os países-membros da ONU se comprometiam a empreender ume esforço para reduzir pela metade a pobreza absoluta no mundo até 2015, entre várias outras metas sociais para o mundo. "Não vimos nada em lugar algum", disse o presidente da Venezuela, sobre o progresso um ano e meio após a Declaração. Chávez criticou também o modelo de desenvolvimento que os países ricos estariam impondo ao mundo em desenvolvimento, dizendo que seriam necessários "dez planetas Terras" para abrigar a atual população humana, se toda ela tivesse um padrão de vida semelhante ao dos países desenvolvidos. Ele criticou a ênfase na mobilização dos recursos internos dos países pobres, para financiar o desenvolvimento, dizendo que em nações onde vivem 500 milhões de pobres não há "capacidade para se mobilizar um centavo". Aquela ênfase faz parte do Consenso de Monterrey, a declaração já aprovada que será ratificada pelos países-membros da ONU ao fim da Conferência. Chávez atacou ainda os subsídios à agricultura dos países ricos, chamando-os de "não só injustos, mas imorais", e cobrou o cumprimento da meta de 0,7% do PIB de ajuda externa por parte do mundo desenvolvido. Para Chávez, o mundo necessita de uma nova "arquitetura ética". Quando o presidente mexicano, Vicente Fox, o mestre de cerimônias, disse a Chávez que ele estava ultrapassando o seu tempo, o presidente da Venezuela retrucou dizendo que "os presidentes dos institutos financeiros passaram do tempo também", referência aos discursos anteriores de James Wolfensohn, presidente do Banco Mundial, e Horst Kohler, diretor-gerente do FMI. Em seu discurso perante a sessão plenária da Conferência sobre o Financiamento ao Desenvolvimento, o presidente do Peru, Alejandro Toledo, prometeu reagir com vigor ao ataque terrorista que matou oito pessoas e deixou trinta outras feridas no país. "Meu governo não permitirá que o terrorismo ressurja no Peru; eu usarei de mão dura, e na outra, a lei", disse Toledo. Ele acrescentou que, em décadas de terrorismo, o Peru perdeu 25 mil vidas. Toledo desculpou-se à assembléia de chefes de Estado porque iria deixar a Conferência antecipadamente. "Minha responsabilidade de Estado me obriga a estar junto ao meu povo nesta hora difícil", disse Toledo.

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