PUBLICIDADE

Publicidade

Seguindo passos dos EUA, Brasil quer discutir reforma da OMC

Apesar da prioridade ao bilateralismo, Ernesto Araújo anunciou engajamento do País na reforma do organismo multilateral

Foto do author Leonencio Nossa
Por Lu Aiko Otta e Leonencio Nossa
Atualização:

BRASÍLIA - Embora pretenda privilegiar as negociações bilaterais, o governo de Jair Bolsonaro irá engajar-se nas discussões para reforma de um organismo multilateral, a Organização Mundial do Comércio (OMC). O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse em seu discurso de posse que o Brasil entrará nos debates. Com isso, seguirá os passos dos Estados Unidos, declaradamente um modelo para a nova política externa brasileira. Nesta quinta-feira, 3, Bolsonaro recebeu o diretor-geral da OMC, embaixador Roberto Azevêdo.

O organismo vive hoje uma crise sem precedentes justamente por causa dos Estados Unidos. Desde o início de seu mandato, Donald Trump tem criticado a atuação do organismo, que acusou de privilegiar a China. Chegou a ameaçar retirar-se e vem, há meses, bloqueando a nomeação de integrantes para o órgão de apelação do organismo, o que pode levar a sua paralisação. Por trás dessas atitudes, estava uma visão que os problemas do comércio americano seriam mais bem encaminhados em negociações bilaterais.

Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC Foto: REUTERS/Sergio Moraes

PUBLICIDADE

Recentemente, porém, os americanos passaram a admitir que algumas questões são resolvidas de forma mais efetiva pela via multilateral, ou seja, seguida por diversos países. Um exemplo é a incipiente discussão sobre adoção de regras mundiais para o comércio eletrônico. A discussão foi lançada no mês passado na reunião do G-20, em Buenos Aires. E os Estados Unidos participam.

O governo norte-americano vem pressionando para a inclusão de outros temas na pauta da reforma da OMC. Por exemplo, a adoção de normas para a atuação de empresas estatais, mirando a grande quantidade de empresas chinesas que têm apoio do governo. Eles querem também discutir um acordo global para proteção de propriedade intelectual, outro problema sempre lembrado na disputa com a China. E também normas para a concessão de subsídios à indústria.

A afirmação de Araújo indica que o Brasil vai engajar-se na discussão desses e outros temas. Nisso, não há conflito com a linha que vinha sendo adotada até o final do ano passado.

Após a audiência com Bolsonaro, Azevêdo foi questionado sobre as críticas do atual governo ao multilateralismo. Ele respondeu que esse é um falso dilema. "Tenho dito com grande frequência que o caminho bilateral tem de ser trilhado e é mais efetivo sobretudo nas negociações tarifárias e acesso ao mercado", afirmou. A via multilateral, por sua vez, é mais útil para negociar regras de uso geral, como o recente acordo de facilitação de comércio aprovado pelo organismo.

Indicado pelo governo Dilma Rousseff, o diplomata foi eleito para o cargo em 2013 e reeleito em 2017 para seu segundo e último mandato. Na conversa desta quinta-feira com os jornalistas, Azevêdo disse que a OMC precisa se renovar e responder às demandas do "mundo moderno". "Esse mundo que estamos vendo aí é completamente diferente de 15, 20 ano atrás."

Publicidade

O embaixador elogiou Araújo, que estava presente no encontro com Bolsonaro. Ele avaliou que o posicionamento crítico do chanceler a órgãos como a OMC e ao que se chama de "globalismo" "foi muito propício, compatível com tudo o que está acontecendo". "Ele está dizendo que devemos repensar. Não vejo nenhum problema em repensar as coisas. Na OMC nós estamos fazendo esse exercício de autocríticas e rearejando o sistema."

Na avaliação do diplomata, Bolsonaro e o chanceler não deram sinais de que pretendem "abandonar" a OMC. "Eles querem que esses organismos respondam melhor e estejam adaptados ao mundo moderno e aos interesses brasileiros, o que acho normal”, disse. "Eles deixaram bem claro que a ideia é usar os mecanismos internacionais, a própria OMC, de uma maneira que, evidentemente, sirva aos interesses brasileiros."

Durante a entrevista no Planalto, o diretor-geral da OMC evitou comentar as reações de países árabes à declaração de Bolsonaro de que pretende mudar a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém. "Não tratamos desse assunto", disse. "Falamos mais no contexto geral. Não tratamos de temas particulares ou relações bilaterais. O Brasil, como 10ª economia do mundo, tem interesses diversificados e essa complexidade do comércio brasileiro tem que ser bem avaliada pela equipe econômica."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.