
11 de agosto de 2020 | 05h00
Desde que anunciou sua saída do governo, em junho, Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro, teve uma agenda disputada: recebeu cerca de 40 propostas de bancos nacionais e estrangeiros, além de gestoras. O anúncio de que ele escolheu como nova casa o BTG Pactual, feito ontem, reforçou a tendência de busca de executivos de “grife” pelo mercado financeiro. Mansueto é mais nome entre uma série de contratações recentes, como a de José Berenguer (ex-JP Morgan) pela XP e Joaquim Levy (que foi ministro da Fazenda no governo Dilma) pelo Safra.
Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a escolha de Mansueto pelo BTG Pactual seguiu o caminho de colegas e amigos – especialmente Eduardo Guardia, ex-ministro da Fazenda com quem trabalhara no governo Temer, e que fez o mesmo movimento em 2019. O ex-secretário do Tesouro integrará o quadro de sócios do BTG ao fim de seu período de quarentena de seis meses, conforme fonte. E vai assumir o posto de economista-chefe da instituição na segunda quinzena de janeiro.
Além do perfil conciliador e da habilidade para se comunicar, Mansueto chega ao BTG em um momento de alta expectativa de crescimento do mercado de capitais brasileiro, diante do juro real muito próximo de zero. A nova realidade tem atraído, dia após dia, investidores em busca de diversificação, que buscam manter a rentabilidade de suas carteiras. A lista de executivos de renome do BTG também incluiu Eduardo Loyo (ex-presidente do Banco Central) e Amos Genish (executivo que já presidiu a Telefônica/Vivo).
Ao buscar nomes reconhecidos pelo conhecimento técnico e com passagem pelo governo, os bancos buscam credibilidade. No caso do BTG, a chegada de Mansueto foi bem-vista: a ação do banco encerrou o pregão de ontem com alta de 1,28%, a R$ 88,88, enquanto o Ibovespa – principal índice de ações do País – teve ganho de 0,65%.
O mercado testemunhou outros movimentos recentes de executivos conhecidos. O Safra, por exemplo, contratou Joaquim Levy, ex-ministro de Dilma Rousseff, para o cargo de diretor de estratégia econômica e relações com mercados do banco.
Ao contrário de Mansueto, que atuará pela primeira vez em uma instituição financeira, Levy comandou a gestora do Bradesco antes de ir para o governo. No início do governo de Jair Bolsonaro, presidiu por alguns meses o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Antes de aceitar o convite do Safra, ocupava o cargo de diretor-geral e diretor financeiro do Banco Mundial.
Conhecida por ter um time jovem à frente dos negócios, a XP começou a engrossar seu quadro com nomes de mais experiência. Trouxe o ex-presidente do Goldman Sachs, Paulo Leme, como chairman do comitê global de alocação da XP Private. Em junho, contratou José Berenguer para ser o responsável por seu banco de investimento. Berenguer deixou a presidência do JP Morgan no Brasil para ir à plataforma.
O economista Roberto Luís Troster, ex-chefe do Departamento Econômico da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), diz entender a ida de quadros do governo para as instituições privadas porque “a carreira burocrática, em Brasília, faz as pessoas perderem, com o tempo, contato com a realidade do dia a dia da economia do resto do País”.
Para Troster, é também importante que o mercado financeiro entenda o setor público. Um entendimento mútuo, em sua visão, seria bom para a produtividade em geral.
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