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Chile defende moeda única para consolidação do Mercosul

Por Agencia Estado
Atualização:

As perspectivas sobre a consolidação do Mercosul são boas para o próximo governo, na visão de brasileiros, mas distantes para o Chile. Sob a ótica do presidente chileno, Ricardo Lagos, enquanto não houver estabilidade econômica em cada nação sul-americana, com o estabelecimento de moeda única, não será possível a formação de um bloco comercial na região. Sobre o Brasil, Lagos disse à Agência Estado que o País necessita de mudanças profundas, possíveis somente a partir de amplas alianças. "No Chile, conseguimos maior respaldo por causa das alianças. Mas não se pode pretender que 100% das medidas sejam aceitas por todos", disse o presidente chileno em menção ao presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Ao discursar na 22ª Reunião da Associação Petroquímica e Química Latino-Americana (Apla), que acontece desde sábado em Santiago, Lagos disse que a América Latina precisa de estímulos para fazer um bloco mais consistente e depois negociar com outros blocos mundiais. Representantes do Brasil, dos Estados Unidos e da Argentina também falaram sobre a formação dos blocos, descrevendo um cenário adverso, que inclui a indisposição dos EUA em cederem na questão ambiental. O discurso de Lagos foi entendido pelos empresários do setor químico como um recado de que o Chile estabilizou a economia e não vai arcar com o ônus dos países que ainda amargam a instabilidade. Ele ressaltou os acordos comerciais do Chile com União Européia, Canadá, México, Coréia do Sul, América Central e o que será firmado com os Estados Unidos até o final do ano. Não mostrou disposição para se engajar na criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e criticou a postura de países vizinhos que se mantêm à margem da abertura de mercado em razão do protecionismo. O subsecretário de políticas latino-americanas, econômicas e de comércio exterior do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Clodoaldo Hugueney, mostrou que, embora as negociações para a formação da Alca aconteçam desde 1994, nada foi decidido até agora. "As decisões ficarão a cargo do PT", disse. Segundo ele, a equipe de transição ainda não tem data para se reunir com o ministério. O diplomata avaliou que o governo do PT, durante a campanha, mostrou mais disposição para consolidar o Mercosul (enfraquecido pela crise argentina) do que em direção a Alca. O mesmo ocorre em relação ao acordo comercial com a União Européia, cujas definições também ficarão para o próximo governo. Nesse momento de transição, a palestra de Hugueney foi esvaziada, demonstrando pouco interesse dos participantes ante a ausência de um representante do novo governo. Sobre petroquímica, Hugueney ressaltou que o Brasil enfrentará problemas de competitividade na Alca, porque a concorrência norte-americana é formada por gigantes da indústria. "Daí a importância da integração da indústria latino-americana, que nesse caso deve ser feito entre as empresas. E o governo deverá ter uma política nacional para o setor, para melhorar a infra-estrutura industrial e os transportes, principalmente", disse. Para os Estados Unidos, a área de petróleo (e a reboque a petroquímica) na América Latina tem que se abrir a parcerias com os vizinhos. "Os países devem estar aptos a produzir petróleo e refiná-lo nos países vizinhos", disse o especialista em políticas de comércio internacional dos Estados Unidos, William Krist. Ele disse que a abertura dos mercados sul-americanos entre si facilitará transações comerciais de multinacionais que investiram na região, e com isso o salto para a formação da Alca. O problema interno da América do Sul ainda são as barreiras, moedas e preços diferentes em cada país. E os Estados Unidos estão mais preocupados com setores que consideram mais protegidos como o de têxteis e o da agroindústria, na América do Sul.

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