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China, oportunidades e riscos

Por Antonio Corrêa de Lacerda
Atualização:

Os governos brasileiro e chinês anunciaram um incremento na sua parceria envolvendo medidas de facilitação de comércio, realização de investimentos e oferta de financiamento de projetos de infraestrutura e logística que ainda carecerão de análise de viabilidade nos campos econômico, ambiental e social. Os recursos foram avaliados em US$ 53 bilhões para os próximos anos, um valor considerável, levando em conta que, segundo levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China, com base nos anúncios das empresas, os investimentos chineses no Brasil no período de 2012-2013 registraram 31 projetos totalizando US$ 8,4 bilhões. Os aportes de um país que tem reservas cambiais de quase US$ 4 trilhões e grande apetite investidor vêm em boa hora, tendo em vista os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira, especialmente a redução do ritmo de crescimento da economia chinesa, com consequentes redução do crescimento do comércio e queda nos preços das commodities. Após 30 anos crescendo mais de 10% ao ano, nos últimos dois anos o PIB da China cresce em torno de 7%, com impacto apreciável na demanda. E, no Brasil, os ajustes em curso envolvem cortes no orçamento público de investimentos, restrições a bancos públicos e elevação de juros, fatores inibidores de investimentos e suas fontes de financiamento. Num contexto mais amplo, é preciso levar em conta os aspectos geopolíticos envolvidos. A China há tempos visa a ampliar sua atuação em regiões como África e América Latina, não só para aproveitar as possibilidades no campo econômico, mas também buscando cobrir a falta de autossuficiência no abastecimento de matérias-primas, energia, alimentos e recursos hídricos. Já para o Brasil, a possibilidade de abertura de uma fronteira de saída para o Oceano Pacífico traz em seu bojo importantes alterações no seu relacionamento bilateral tanto com os países a oeste da América do Sul como com asiáticos. Muito embora, deve-se destacar, se trate de um projeto bastante polêmico e de difícil execução. A relevância dos progressos de âmbito comercial é também um ponto de destaque, lembrando que a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil nos últimos dez anos, quando a corrente de comércio cresceu de US$ 9 bilhões para cerca de US$ 80 bilhões ao ano. Há, nesse aspecto, um desafio qualitativo. 90% da pauta brasileira de exportação para os chineses está concentrada em commodities: soja (41%), minério de ferro (30%) e petróleo bruto (9%). Enquanto isso, as máquinas e equipamentos compõem a quase totalidade das exportações chinesas para o Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Por outro lado, é preciso considerar que a estratégia chinesa está em vincular seus investimentos e linhas de financiamento de projetos a ampliar os espaços de suas empresas no fornecimento de equipamentos, muitas vezes usando sua própria mão de obra. Daí a importância de, além de atentar para os detalhes dos acordos, implementar políticas que de forma competitiva garantam o espaço de atuação das empresas locais nas atividades previstas, aproveitando o efeito multiplicador dos investimentos. É claro, isso não é automático. Depende fundamentalmente de competitividade, do aspecto macroeconômico até o empresarial. Do ponto de vista competitivo, temos situações opostas entre os países. De um lado, a China, que sempre fez uso da economia de escala do seu grande mercado, forte utilização de subsídios diretos e indiretos e manipulação da taxa de câmbio para ganhar vantagem competitiva. Do outro, o Brasil, com suas deficiências sistêmicas e também de ordem microeconômica, que prejudicam a sua inserção externa e a criação de valor. Entre os dois paradigmas citados, é preciso estar atento para não cair na armadilha dos recursos financeiros aparentemente fáceis, em troca da perda de capacidade de gerar valor agregado e de exportações. *Consultor, é professor-doutor e coordenador do programa de estudos pós-graduados em Economia e Política da PUC-SP

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