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China deve valorizar moeda, recomenda FMI

Diretor-gerente do Fundo diz que chineses seguirão estratégia, não porque ele sugeriu, 'mas porque terão interesse nisso'

Foto do author Rolf Kuntz
Por Rolf Kuntz e WASHINGTON
Atualização:

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, defendeu ontem a valorização da moeda chinesa, reforçando as pressões dos governos dos Estados Unidos e de outros países do mundo rico. Essa mudança não deverá ocorrer de um dia para outro, mas será um complemento de um novo modelo de crescimento, baseado mais no mercado interno que nas exportações, argumentou. O governo chinês, disse o diretor do FMI, buscará combater a inflação e garantir maior poder de compra aos consumidores e "isso combinará com um valor maior do yuan". As autoridades chinesas provavelmente seguirão essa estratégia, concluiu, não porque ele a tenha aconselhado, "mas porque terão interesse nisso". Um dia antes, o economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, já havia defendido a valorização das moedas não só da China, mas também de outras economias emergentes. Também descreveu essa mudança como sendo de interesse dessas economias. Os países emergentes, segundo seu raciocínio, precisam importar mais dos Estados Unidos e de outros deficitários, porque isso ajudará a recuperação das economias avançadas e o resultado será bom para todos. A mensagem da valorização "no interesse" da China e de outros emergentes é uma das novidades da Reunião de Primavera do FMI e do Banco Mundial, nesta semana. Durante anos, antes da crise, os governos do G-7, formado pelas economias capitalistas mais avançadas, cobraram das autoridades da China a revalorização da moeda.O governo chinês foi acusado muitas vezes de manter a moeda depreciada artificialmente, para baratear as exportações e torná-las mais competitivas. Flexibilidade. Pequim anunciou, há alguns anos, uma política mais flexível de câmbio, mas a mudança foi pouco significativa. Depois da crise, quando o dólar se desvalorizou, as autoridades chinesas deram a resposta mais simples, fazendo a cotação de sua moeda acompanhar o valor da moeda americana. Com a crise, ganhou força a ideia de um reequilíbrio da economia mundial, com troca de papéis entre EUA e China - mais poupança e mais exportação na economia americana e mais consumo e menos exportação na chinesa. A mudança, segundo Strauss-Kahn, já começou nos dois países e do lado chinês falta o complemento cambial.O assunto poderá reaparecer na reunião dos ministros de Finanças do G-20. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, falou há poucos dias, em Brasília, sobre a necessidade de mudança cambial na China. Passado o pior da crise, oficialmente batizada no FMI como a Grande Recessão, a recuperação continua frágil, a demanda privada ainda é fraca e o desemprego permanece em alta em alguns países. "Logo, o mundo ainda é um lugar perigoso", disse Strauss-Kahn, e é cedo para voltar à vida de sempre. É preciso levar adiante a reforma financeira. Até o fim do ano será necessário alcançar um acordo sobre requisitos de liquidez e de capital para os bancos, instrumentos para cuidar de riscos sistêmicos e um esquema para solução de problemas de âmbito internacional, disse o diretor do Fundo.A reforma poderá incluir novos impostos para compensar o custo de socorro aos bancos e para prevenir a tomada de riscos excessivos pelas instituições. Uma proposta esboçada pelo FMI será discutida hoje pelos ministros do G-20. Haverá correções e uma versão nova será apresentada aos chefes de governo do grupo em junho. O ministro Guido Mantega falou sobre o assunto numa entrevista. Os bancos brasileiros, segundo ele, não participaram da criação da bolha e deveriam ficar isentos dessa cobrança. Mas será também preciso rediscutir, disse Strauss-Kahn, o mandato do Fundo. Esse mandato já não reflete, argumentou, as tarefas de fato cumpridas pela instituição. Além de socorrer economias afetadas pela crise e de pôr em prática novos esquemas de financiamento, o FMI participa dos estudos de reforma do sistema financeiro e deve ter um papel importante no esquema de supervisão e de prevenção de crises. Tudo isso vai muito além do mandato tradicional. Ao levantar o assunto, Strauss-Kahn aponta para uma valorização política do Fundo.

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