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China pode boicotar soja norte-americana

Por Agencia Estado
Atualização:

A "guerra do aço" está levando a China a recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) pela primeira vez na história do país. Em um comunicado enviado, nesta sexta-feira à entidade, Pequim solicita consultas com os Estados Unidos para esclarecer os motivos que levaram a Casa Branca a estabelecer uma taxa de 30% sobre a importação de aço. A China é o maior produtor mundial de aço, e a decisão de recorrer à OMC ocorre apenas três meses depois da entrada do país na OMC. De acordo com o pedido de Pequim, as consultas vão realizar-se no âmbito do Acordo de Salvaguardas da OMC. Os mandarins da política comercial da China alegam que as sobretaxas imposta por Washington prejudicam suas exportações, e um dos resultados das consultas poderia ser a solicitação de que a Casa Branca faça concessões comerciais para equilibrar as perdas. Segundo Pequim, a China deve deixar de exportar cerca de US$ 350 milhões aos Estados Unidos por ano em conseqüência das barreiras. A estratégia utilizada por Pequim é a mesma adotada pelo Brasil, que fará consultas com os Estados Unidos no início da próxima semana. Os chineses ainda não acertaram uma data para a reunião com os diplomatas da Casa Branca, mas, em Genebra, a notícia da iniciativa de Pequim foi considerada um importante reforço na luta contra as barreiras norte-americanas. Soja dos EUA pode ser barrada Enquanto em Genebra a China optava por recorrer aos mecanismos legais para solucionar suas diferenças, em Pequim as autoridades insinuavam que a soja norte-americana poderia sofrer para entrar no mercado local, se os Estados Unidos mantiverem uma política comercial protecionista. As afirmações sobre o comércio de soja despertaram o interesse dos diplomatas dos países exportadores do produto, como o Brasil, que poderia ser beneficiado pela exclusão da soja norte-americana do mercado chinês. Independência A decisão de Pequim de recorrer à OMC também teve impacto fora da disputa do aço. Nos corredores da organização, os comentário nesta sexta eram de que o pedido de consultas por parte dos chineses mostra que Pequim não se intimidará em pedir a intervenção da OMC em disputas comerciais simplesmente por ter ficado de fora do sistema internacional do comércio por mais de quatro décadas. "Ficou claro que todas as vezes que Pequim considerar necessário, recorrerão à OMC contra quem quer que seja", afirma um consultor econômico da organização. Reunião Enquanto os países prejudicados pelas barreiras fazem fila para questionar os Estados Unidos na OMC, cerca de 30 governos se reuniram nesta sexta em Paris para iniciar um diálogo com o objetivo de estabelecer um acordo sobre o comércio mundial de aço. Para especialistas, a disputa que ocorre atualmente no setor poderia ter sido evitada há mais de dez anos, quando a comunidade internacional se reuniu para tentar estabelecer regras para o comércio de aço. Os esforços fracassaram quando Washington se recusou a limitar o uso de políticas protecionistas no setor. Na reunião desta sexta, mais uma vez são os Estados Unidos que dificultam as negociações por ter adotado medidas protecionistas unilaterais enquanto os demais países tentavam estabelecer um diálogo. A próxima reunião do grupo ocorrerá em meados de abril, também em Paris, com o objetivo de fazer um levantamento sobre as políticas existentes que acabam distorcendo o mercado mundial de aço.

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