PUBLICIDADE

Publicidade

‘China pode crescer 8% ou 9% ao ano por mais uma década’, diz economista

Na avaliação do economista, setor privado deve ganhar peso na China com as reformas anunciadas

Por Cláudia Trevisan e correspondente de O Estado de S.Paulo
Atualização:

WASHINGTON - Se implementar todas as reformas anunciadas pelo Partido Comunista, a China poderá crescer de 8% a 9% ao ano por mais uma década, avalia o economista Nicholas Lardy, que estuda o país asiático desde o fim dos anos 70. Mas as autoridades de Pequim enfrentam um enorme desafio de curto prazo, que é conter o excessivo investimento no setor imobiliário. "Neste ano, eles estão investindo 12% do PIB só em imóveis residenciais. Isso é o dobro do que os Estados Unidos investiram no pico (da bolha imobiliária). A Espanha, no pico, investiu 9% do PIB, antes que houvesse o crash", diz Lardy, que desde 2003 está no Peterson Institute for International Economics, em Washington. Na opinião dele, uma das mudanças de maior impacto entre as anunciadas pelo líderes chineses é a liberalização da taxa de juros incidente sobre depósitos. Hoje, ela é controlada pelo governo e mantida em patamares baixos, um fenômeno que Lardy chamou de "repressão financeira" no livro Sustaining China's Economic Growth After the Global Financial Crisis (Sustentando o Crescimento da China Depois da Crise Financeira Global), publicado em 2012. A seguir, trecho da entrevista de Lardy ao Estado.Como será a economia chinesa se todas as reformas anunciadas forem implementadas?Eu espero ver o papel do setor estatal recuar ainda mais. Ele já diminuiu bastante nos últimos 35 anos. As reformas vão continuar a criar um crescimento econômico alto. Se as reformas forem implementadas, a economia crescerá 8% ou 9% por mais uma década. O setor mais produtivo da China é o privado. O retorno sobre ativos no setor privado é de cerca de 14% ao ano. No estatal ele é de apenas 5%. Com as reformas, mais recursos vão para o setor privado. Portanto, para a mesma quantidade de investimentos, haverá um índice maior de crescimento econômico. Como o sr. compara o anúncio recente a outras reformas na China, como as de 1978 e 1993?O documento é provavelmente o mais impressionante. Mas o que vai importar é a sua implementação. Na Terceira Reunião Plenária de 1978 (que iniciou o processo de reforma e abertura), ninguém tinha ideia do que sairia do encontro, e só vimos o que estava ocorrendo em 1982, 1983. O documento atual é mais detalhado e trata de temas concretos. Mas só saberemos se ele vai ou não levar a mudanças fundamentais quando virmos a sua implementação.Quais são as mudanças mais importantes?A principal é a ampliação do papel do mercado e a reforma dos preços dos fatores de produção. É deixar os mercadores tomarem as decisões.

PUBLICIDADE

O que muda no setor financeiro?  

 

A mais importante mudança é a liberalização das taxas de juros incidentes sobre depósitos. O sistema atual (que mantém as taxas em patamar baixo) dá aos bancos uma fonte de fundos muito barata. Com isso, há muito investimento, porque o preço do capital é muito baixo. A liberalização do setor financeiro, em particular das taxas de juros, será um passo muito importante.A economia chinesa enfrenta problemas de curto prazo, entre os quais uma provável bolha no mercado imobiliário, expansão de crédito fora do sistema bancário e investimento excessivo. Eles vão conseguir administrá-los?Eles investiram de maneira maciça no setor imobiliário e será um grande desafio sair disso sem provocar enormes consequências econômicas. Essa é outra razão pela qual eles têm de liberalizar as taxas de juros sobre depósitos. Uma das razões pelas quais as pessoas investem em propriedades é porque não podem ganhar nada colocando dinheiro nos bancos. O retorno real sobre depósitos bancários tem sido em média negativo por quase 11 anos. Se as taxas dos depósitos forem liberalizadas, elas são mais atraentes do que foram no passado, o que pode desestimular o investimento no setor imobiliário.E a questão do investimento excessivo como um todo?A taxa de juros vai ser mais alta, o custo do capital vai aumentar e isso vai automaticamente levar à redução do nível de investimentos. Mas há pessoas que veem o risco de um pouso forçado por causa da crise no setor imobiliário. O setor imobiliário é o maior risco de curto prazo. Neste ano, eles estão investindo 12% do PIB só em imóveis residenciais. Isso é o dobro do que os Estados Unidos investiram no pico (da bolha imobiliária). A Espanha, no pico, investiu 9% do PIB, antes que houvesse o crash. O investimento em imóveis residenciais está na estratosfera. A Irlanda é o único país que investiu mais em propriedades residenciais do que a China.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.