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China provoca queda nas ações no mundo todo

No Brasil, Bolsa fechou em queda de 6,63%, a maior desde os atentados de 11/9

Por Agencia Estado
Atualização:

Preocupações com a China e com o crescimento dos Estados Unidos derrubaram os mercado no mundo todo nesta terça-feira. Na China, a bolsa computou a maior perda em dez anos e a quarta desde que foi criada em 1990. O índice Xangai Composto caiu 8,9%, reduzindo para 14% os ganhos acumulados este ano e após ter computado uma impressionante alta de 130% no ano passado. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 6,63%, a maior desde os atentados terroristas de 11 de setembro em Nova York. Nenhuma das ações que compõem o Ibovespa - índice que mede o desempenho das ações mais negociadas da Bolsa - fechou em alta. No encerramento dos negócios, o volume de operações na Bolsa ultrapassou os R$ 5,450 bilhões. Sem nenhuma notícia específica e apenas com base em rumores do mercado, os investidores passaram a avaliar o risco de restrições aos investimentos na China. Nos bastidores, os rumores eram de que o governo chinês poderia elevar os juros e os impostos como medidas para conter o capital especulativo, além de reduzir o ritmo da economia do país. Estes boatos e os comentários do ex-chairman do Federal Reserve Alan Greenspan, na véspera, de que a maior economia mundial pode entrar em recessão até o fim do ano, e com dados desta manhã que mostraram que as encomendas de bens duráveis despencaram 7,8% em janeiro, provocaram estragos no mercado de ações no mundo todo. Em Hong Kong, o índice Hang Seng fechou em baixa de 1,8%, perto da marca psicológica de 20.000 pontos - aos 20.147,87. Além da influência da China, investidores também estão na expectativa da divulgação do orçamento que o governo fará nesta quarta-feira. A Bolsa de Taiwan chegou a registrar 7.939,50 pontos durante as negociações, mas fechou praticamente estável na comparação com o pregão de ontem. O índice Kospi, da Bolsa sul-coreana, caiu 1,1%, e o mercado filipino encerrou o pregão também em queda de 1,4%, aos 3.331,29 pontos, com uma sessão de alto volume de negócios e movimento de correção do mercado, depois de ter registrado a maior alta em pontos dos últimos 10 anos na sexta-feira. As ações européias tiveram o pior dia em quase quatro anos. O índice FTSEurofirst 300, de principais ações européias, encerrou em queda de 2,8%, a 1.507 pontos, segundo dados preliminares, menor nível desde 11 de janeiro, apagando quase dois terços de seus ganhos desde o início do ano. Em Nova York, as bolsas também registraram forte queda. O Índice Dow Jones - que mede o desempenho das ações mais negociadas na Bolsa de Nova York - recuou 3,24%. Trata-se da maior queda em cinco anos. A Nasdaq - bolsa que negocia ações do setor de tecnologia e Internet - caiu 3,86%. Na Argentina, a Bolsa de Buenos Aires também foi arrastada pelo contexto internacional e fechou em baixa de 7,49%. Para esta quarta-feira, todas as atenções estarão voltadas para o comportamento das bolsas asiáticas. O que está em jogo é a profundidade e a extensão dos motivos que provocaram essa turbulência de hoje nos mercados. E isso vale tanto para a China quanto para os Estados Unidos. A primeira é a economia que mais cresce no mundo. E a segunda é a maior de todas. Mercados brasileiros No Brasil, o dólar registrou nesta terça-feira o maior avanço diário desde maio do ano passado. O leilão de compra de dólares feito pelo Banco Central à tarde ajudou a acentuar a alta da moeda norte-americana. O dólar fechou a R$ 2,1200, no patamar máximo do dia, com avanço de 1,73%. Durante o dia, o dólar oscilou até a mínima de R$ 2,1000 - patamar acima do fechamento de segunda-feira, que foi de R$ 2,0840. Com o resultado desta terça, o dólar registra queda de 0,19% em fevereiro. O risco Brasil - que mede a desconfiança do investidor estrangeiro em relação à capacidade de pagamento da dívida do País - estava em 201 pontos base às 18h45. É a maior taxa desde fechamento de 15 de dezembro de 2006. Oscilações devem continuar Para o diretor de economia e investimentos na América Latina do WestLB, Ricardo Amorim, o que aconteceu na China foi a desculpa para um movimento de ajuste de preços que aconteceria naturalmente muito em breve por qualquer outra razão. Provavelmente, o movimento de ajuste continuará por mais algum tempo, algo similar ao que aconteceu em maio passado, mas de magnitude menor. Ainda assim, o cenário mundial benigno de crescimento sustentado e baixas taxas de juros não mudou e o ajuste dos mercados não deve mudar a tendência de alta observada nos últimos anos. "Acho que os mercados caem mais nas próximas semanas, mas depois que isso acontecer teremos ótimas oportunidades de compras de ativos brasileiros", disse. Para Maurício Molan, economista sênior do Santander Banespa, há justificativa para ajuste momentâneo de preços, na medida em que maiores incertezas são incorporadas. Mesmo acreditando que não ocorreu mudança nos fundamentos, seja chinês ou norte-americano, e que não haja forte evidência de existência de bolha de ativos, há justificativa para ajuste momentâneo de preços, na medida em que maiores incertezas são incorporadas. "E mais, a volatilidade gerada por esta conjuntura, ainda que temporária, obriga investidores a reduzir suas posições. Isto é, existe uma perda potencial estimada pelos investidores, ao decidirem quanto será aplicado em um determinado ativo. Se a volatilidade aumenta, aumenta também a perda potencial atribuída a cada uma das posições. Para que esta volte ao nível inicialmente considerado aceitável, é necessário reduzir o montante alocado, ou seja, vender ativos.", explicou. Por isso, segundo ele, não se deve esperar por normalização rápida dos mercados e volta aos patamares anteriores. A conjuntura de maior volatilidade (oscilação) deve persistir por algum tempo.

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