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Chomsky, a estrela solitária do fórum

Por Agencia Estado
Atualização:

Se no ano passado quem roubou as atenções no Fórum Social Mundial foi um agricultor francês com bigodes de Asterix - de novo presente mas, por enquanto, adotando comportamento discreto -, neste ano quem atrai mais atenção e aplauso dos participantes é um professor americano de cabelos brancos e voz monótona, Noam Chomsky. Falando para milhares de pessoas simultaneamente, por meio de telões espalhados por salas e saguões do campus da PUC, o lingüista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) confirmou a condição de estrela solitária do evento. Na conferência, "Um Mundo sem Guerras É Possível", Chomsky repetiu o que vem dizendo em entrevistas à imprensa - na verdade, o que vem dizendo desde os anos 60, com atualização para acontecimentos recentes. O convite a Chomsky feito pelo PTgaúcho foi conveniente por alguns motivos: é um americano antiamericano, disposto a comentar os ataques terroristas de 11 de setembro sem, em momento algum, emitir uma crítica sequer ao Taleban e aos autores do atentado. "A política continua a ser a mesma", disse Chomsky sobre o mundo posterior ao colapso da União Soviética. "Com a diferença de que, agora, os poderosos estão usando o clima de insegurança para explorar o medo da população." Para ele, os líderes dos países ricos só estão preocupados em concentrar mais poder nas mãos e utilizar a globalização para os próprios interesses. E a violência é um item essencial dessa aquisição de poder e riqueza: "A Europa usou da violência durante séculos", disse, lembrando a colonização de continentes como o africano. Chomsky foi interrompido uma vez por aplausos quando, depois de listar diversas ações intervencionistas dos EUA ao longo da história, do México às Filipinas "com citação à parte para o Brasil, cujo regime militar apoiaram", disse que não existe diferença substancial entre essas ações e o terrorismo de grupos extremistas. "Uma definição aceitável de terror é o uso calculado da violência para finalidades políticas, ideológicas ou religiosas", afirmou. "Então, não há diferença entre o terror de Estado praticado pelos EUA e o terrorismo." Chomsky citou ainda o bombardeio sobre o Afeganistão como prática igualmente terrorista. Um mundo sem guerras surgiria, segundo ele, de uma globalização feita por trabalhadores, uma espécie de sindicalismo internacional. "O capital é a prioridade e as pessoas estão em segundo plano. Enquanto for assim, haverá guerras."

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