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Chomsky elogia genéricos e quebra de patentes

Por Agencia Estado
Atualização:

Visivelmente constrangido pelo número de jornalistas presentes à sua coletiva, o professor americano Noam Chomsky falou nesta quinta na capital gaúcha sobre a conferência que dará hoje no Fórum Social Mundial. "Esses microfones não deveriam estar voltados para mim", disse Chomsky, numa abarrotada sala do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, que bancou sua vinda. Ele comentou propostas sobre globalização e o atentado terrorista de 11 de setembro. Sentado ao lado do governador Olívio Dutra, também elogiou, curiosamente, a política brasileira de quebra de patentes e de defesa dos genéricos, pela qual o ministro da Saúde, José Serra, candidato a presidente que concorre contra o PT, é o responsável. Chomsky, que está lançando no Brasil o livro "11 de Setembro" (Bertrand Brasil) e cuja conferência é intitulada "Um mundo sem guerras é possível", foi muito perguntado sobre o ataque terrorista. Disse que ele foi "um choque" e "uma atrocidade", mas logo tratou de justificá-lo: "Foi a primeira vez na história em que as armas foram apontadas para a outra direção", referindo-se ao intervencionismo americano e à colonização européia. "Isso torna o evento menos atroz." Disse também que o ataque mobilizou os centros de poder e os levou a "intimidar os pobres ainda mais". Segundo Chomsky, "existem atrocidades piores a caminho", sem especificar quais. Mais tarde, mencionou a "militarização da corrida espacial", que agora estaria sendo retomada pelo governo americano. Sobre o papel do Fórum Social Mundial, Chomsky, como antecipou em entrevista ao Estado, afirmou que ele não deve ser considerado "um fórum antiglobalização", porque a palavra globalização teria sido "roubada pelos poderosos para defesa de seus interesses próprios". Acrescentou: "Fórum antiglobalização é o que está ocorrendo em Nova York." Chomsky lembrou que os movimentos socialistas nasceram com a pretensão de serem "globais" e pediu pela recuperação dessa bandeira. "Precisamos continuar as vitórias do passado." Ele acha que os países ricos estão aproveitando o momento de crise econômica para "submeter ainda mais" os países pobres. Na hora de apresentar propostas, porém, Chomsky declarou que essa tarefa cabe ao fórum e disse que elas já estão sugeridas nos "eixos temáticos" escolhidos para os seminários. O Eixo I discute temas como controle dos capitais financeiros e perdão das dívidas externas. O Eixo II trata de ambientalismo e de "soberania alimentar", um conceito defendido por entidades como a Via Campesina, de José Bové, e o MST: a necessidade de um país produzir todos os alimentos que consome. O Eixo III contém reinvindicações de feministas e migrantes. E o Eixo IV fala em "democracia participativa" e ataca o "militarismo da globalização". Dessas propostas, Chomsky apoiou mais explicitamente o "não à Alca", o mercado comum das Américas, e a derrubada do protecionismo dos países ricos. Foi neste contexto que elogiou a política de Serra no caso da Aids, sem saber que elogiava o adversário político do partido que o convidou ao Brasil.

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