'Chuvinha pouca não conta'

Senhor que 78 anos conta que aposentadoria é que tem ajudado a manter parte das despesas da casa, principalmente com os remédios da esposa Luzia, de 79 anos

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Rodrigues só deixa o sertão quando for 'envelopado' Foto: Hélvio Romero/Estadão

Na região rural de Acauã (PI), primeira cidade a ser beneficiada pelo programa Fome Zero junto com Guaribas, em 2003, Hortêncio Francisco Rodrigues, de 78 anos, conta que, até 2012, tinha 20 cabeças de gado, mas hoje tem quatro: “Praticamente mandei colocar no caminhão e levar; vendi baratinho, pois ninguém queria.”

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Agora se dedica à criação de 150 ovelhas e cabras, que são mais resistentes e comem plantas da caatinga, como mandacaru, angaroba e palma, que também começam a escassear em algumas regiões do Nordeste. Rodrigues ficou contente com a chuva de dezembro, mas ressalta que “chuvinha pouca não conta”. Desde então, o sol voltou a ser “o mais quente da vida”, como define ele. 

De sorriso fácil, Rodrigues afirma que o valor recebido da aposentadoria é que tem ajudado a manter parte das despesas da casa, principalmente com os remédios da esposa Luzia, de 79 anos. Com seis filhos (dos quais dois já morreram), um número de netos que perdeu a conta e 31 bisnetos, ele diz que parte da família deixou o sertão. Alguns migraram para São Paulo, “à caça de emprego”. Apesar das secas constantes, umas mais duras, outras menos, não pensa em ir embora. “Nasci aqui e só saio envelopado”, brinca.

O vizinho José Teixeira de Macedo, de 64 anos, já viveu da plantação de algodão nos anos 80, mas perdeu tudo por causa da praga de bicudos. Participou de frentes de trabalho na grande seca de 1983 e agora cria ovinos e planta milho e feijão quando chove. Diz que, sem a aposentadoria, tudo estaria muito mais difícil. Ele e um dos filhos cuidam da roça e também não pensam em abandonar o sertão. Já a neta, Samara, de 16 anos, pretende mudar-se para uma cidade maior e estudar Administração. “Não vou morar aqui; vejo o sofrimento dos avós e dos pais e não quero isso”.

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