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Cias. aéreas vivem pesadelo com programa de milhagem

Por Agencia Estado
Atualização:

A quantidade de milhas acumuladas pelos clientes já é tão grande que se transformou no maior problema de algumas empresas aéreas de todo o mundo. Para diluir esse volume, as companhias precisariam de quase duas décadas, a não ser que decidissem enviar seus passageiros à Lua, com passagens de volta, claro. Ainda assim, seriam necessárias outras 18 milhões de viagens. Mesmo que pareça ficção, passagens para o espaço já estão sendo oferecidas. A US Airways já oferta lugar na primeira viagem turística ao espaço por 10 milhões de milhas. De acordo com dados de revistas especializadas como a Inside Flyer e a Fast Company, as milhas disponíveis nas companhias aéreas no mundo superam os 8,5 trilhões, suficientes para dar mais de 1 milhão de voltas de graça em torno da Terra ou ir mais de 40 mil vezes ao Sol, com passagem de volta incluída. As cifras são impressionantes, embora a maioria das companhias não informem o número preciso de milhas acumuladas por ser um dado estritamente confidencial, pois faz parte do balanço da empresa. Em outras palavras, trata-se de um dos passivos da companhia, que tem o mesmo conceito de provisão para devedores duvidosos. Só nos Estados Unidos, o estoque de milhas supera os 3,5 trilhões e não pára de crescer a cada dia. Oferecer passagens talvez seja uma das fórmulas para reduzir o estoque ou o passivo das companhias aéreas, que cresce cerca de 20% ao ano. Até o final de 2002, de acordo com especialistas, outros 500 bilhões de milhas devem se somar ao acumulado. Esse crescimento é 2,5 vezes mais rápido do que o suprimento de dólares em efetivo. Uma expansão de tal envergadura tiraria o sono de muitos presidentes de bancos centrais do mundo, diz recente editorial da revista The Economist, no qual é analisado o fenômeno do crescimento do estoque de milhas. 13 milhões de passagens foram emitidas em 2001 Apenas no ano passado, as companhias emitiram 13 milhões de passagens de graça para seus clientes e já pensam em mudar as regras, dificultando a emissão de passagens-prêmio. Outras empresas, como a Varig, criaram estratégias para reduzir o acúmulo de milhas. "Embora nosso estoque seja ainda muito baixo, porque o programa está completando apenas oito anos de vida, não vamos cometer o mesmo equívoco das companhias norte-americanas e européias", disse à Agência Estado o gerente geral do Programa Smiles da Varig, Amauri Cabral. A Varig decidiu criar alternativas e lançou programas de incentivos para os viajantes que ainda não acumularam as milhas necessárias para trocar pelo prêmio. Na semana passada, a companhia brasileira decidiu reduzir de 20 mil milhas para 10 mil milhas a passagem-prêmio para qualquer lugar do Brasil e da América Latina. O cliente terá, no entanto, que pagar uma parcela em dinheiro. "Estamos dando uma opção pela metade das milhas e com 1/3 do valor da passagem para clientes que não conseguem acumular milhas suficientes", explicou Cabral. Quando o Programa Smiles da Varig foi lançado, em dezembro de 1994, havia 80 mil clientes. Hoje, este número cresceu para 4,1 milhões. Para aqueles profissionais que não viajam muito e acabam não conseguindo acumular milhas suficientes para ganhar o prêmio, a Varig criou os "prêmios de baixa freqüência de vôos". Na outra ponta, entretanto, a empresa conta com clientes que têm mais de 1 milhão de milhas e que não conseguem usá-las. Para esses, disse Cabral, foi criado o Programa Doar, no qual o cliente pode ceder parte de suas milhas para instituições médicas e hospitalares. Dessa forma, pacientes que precisam fazer tratamento médico no exterior podem viajar. Aos programas de milhagens das companhias aéreas, entretanto, somam-se ainda os produtos e serviços oferecidos por grupos que fazem parte de um mercado paralelo. São empresas de aluguel de carros, grupos de hotéis, operadoras de telefonia celular, lojas, restaurantes e administradoras de cartão de crédito, que transformam o valor das compras em pontos que poderão ser trocados por milhas nas empresas aéreas. É deste consumo que advém 40% das milhas acumuladas pelos viajantes, antes mesmo de decolarem. A estratégia de marketing dessas empresas se transformou num verdadeiro negócio para acumular horas de vôos. Em 2001, tais empresas "venderam" US$ 2 bilhões em produtos e serviços no equivalente em milhas.

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