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Ciclo de alta dos juros deve ir além de março, indica BC

Banco Central fala em 'ajustes adicionais' e faz alerta sobre riscos fiscais e seus efeitos sobre a inflação; mercado leva projeções para a Selic para acima de 12%

Foto do author Eduardo Rodrigues
Foto do author Thaís Barcellos
Por Eduardo Rodrigues e Thaís Barcellos (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA - A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 8, não poupou recados e mostrou que o colegiado não está pronto para parar o ciclo de aumento da Selic, após a taxa básica de juros chegar a dois dígitos (10,75% ao ano).

O documento deixou claro que a intenção do colegiado em reduzir o ritmo de ajuste monetário a partir de março (de 1,5 ponto porcentual para 1 ponto, como prevê o mercado) não significa, de forma alguma, encerrar o ciclo de aumento de juros no próximo encontro - como chegaram a cogitar alguns analistas após o comunicado da semana passada. A diretoria do BC citou explicitamente “ajustes adicionais”, sem revelar, entretanto, a magnitude desses movimentos à frente.

Cliente faz compras em supermercado; o Banco Central indicou, pela ata do Copom, que o ciclo de alta dos juros deve ir além de março Foto: Dida Sampaio/ Estadão - 10/9/2021

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O BC deixou uma margem para lidar com as incertezas do cenário e, por isso, não se comprometeu com um movimento específico. É bom lembrar que o atual ciclo em nenhum momento foi suave, já começando com altas de 0,75 ponto porcentual, seguidas por elevações de 1 ponto até chegar ao ritmo atual de 1,5 ponto.

Ao mesmo tempo, a ata sinalizou que o mercado segue atrás da curva desenhada pelos modelos do BC, que pode estar mirando uma taxa final de juros mais elevada do que a das projeções que compõem o cenário de referência utilizado pelo Copom. Nesse cenário, o colegiado utiliza as medianas do mercado financeiro, conforme o Boletim Focus, para a taxa Selic, que chega a 12% ao ano neste primeiro semestre, termina o ano em 11,75% e reduz-se para 8% ao ano em 2023.

“Vale notar que os cenários considerados, consistentes com a convergência da inflação para suas metas, pressupunham trajetória da taxa de juros superior às utilizadas no cenário de referência”, detalhou o documento.

Por fim, o BC retomou a cruzada fiscal ao alertar que, ainda que sejam adotadas medidas benéficas para a inflação no curto prazo, esse artificialismo pode renovar as desconfianças do mercado sobre o compromisso de ajuste das contas públicas, levando a um aumento da inflação no longo prazo.

A ata não precisou mencionar, mas o recado dado diz respeito à PEC dos Combustíveis que, a depender dos diversos formatos debatidos entre governo e Congresso Nacional, pode se tornar a nova “bomba fiscal” brasileira, nas palavras do próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista ao Estadão publicada nesta terça-feira.

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Mercado eleva previsão para a Selic 

O teor da Ata do Copom fez economistas revisarem, para cima, suas projeções para a taxa de juros. Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho para a América Latina, por exemplo, elevou sua previsão de 11,75% para 12,25%. 

"As simulações do Banco Central indicam que os 12% do Focus talvez não sejam suficientes para trazer a inflação de volta para o centro da meta no ano que vem, então acho que isso, hoje, é o piso para a Selic terminal", diz. "A Selic deve atingir pelo menos 12,25% no final do ciclo e, se for diferente disso, o tom da ata é para mais."

A Kínitro Capital também elevou a sua projeção para a Selic de 11,75% para 12,25%, após a divulgação da ata do Copom. Para o economista-chefe da gestora, Sávio Barbosa, o texto deixou claro que o comitê vai estender o ciclo além de março e trabalha com juros finais acima do cenário de referência do Focus, de 12%.

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"Nos parágrafos 15 e 16, o BC sinalizou que uma trajetória condizente com a convergência da inflação para a meta contempla juros superiores aos do cenário de referência", avalia Barbosa. "Nosso cenário-base era de Selic em 11,75% até o primeiro trimestre de 2023, mas, com a comunicação de hoje, achamos adequado revisar a projeção."

Para Mirella Hirakawa, economista-sênior da AZ Quest, a ata também estabelece o alongamento do ciclo, mantendo o aperto por mais tempo, sem reduções da taxa ainda em 2022. Ele prevê a Selic agora mais próxima de 12,25% ou 12,50%, ante expectativa pré-ata de 12%. A economista, porém, não acredita que a taxa chegue a 13%, por conta da potência da política monetária e também a dinâmica explosiva para a dívida que a elevação nesse patamar poderia acarretar. / COLABORARAM CÍCERO COTRIM E MARIANNA GUALTER

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