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Ciclo de expansão do emprego na indústria deve parar, diz CNI

Falta de capital de giro e retração de demanda devem frear o setor

Por Renata Veríssimo e BRASÍLIA
Atualização:

O agravamento da crise financeira aumentou as incertezas dos empresários e pode interromper o ciclo de expansão do emprego na indústria, que já dura sete trimestres consecutivos. Além disso, a possibilidade de uma retração nas demandas interna e externa deve levar o setor a reduzir a compra de matérias-primas. Esse cenário para os próximos seis meses foi traçado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), na Sondagem Industrial do terceiro trimestre de 2008, divulgada ontem. Os empresários também se mostraram pessimistas quanto à evolução das exportações. Pelo sétimo trimestre consecutivo, a indústria espera queda nas vendas externas, apesar da valorização do dólar frente ao real. "O câmbio pode até estar atrativo, mas não tem negócio", afirmou o economista-chefe da CNI, Flavio Castelo Branco. A sondagem revelou também que os estoques aumentaram de forma mais intensa do que o planejado, principalmente nas grandes empresas. A redução do crédito também já atingiu a indústria. O problema de capital de giro ganhou importância entre as médias e grandes empresas. No caso das grandes empresas, 14,6% dos entrevistados apontaram a falta de capital de giro como um problema enfrentado pela indústria, no terceiro trimestre. No segundo trimestre, esse porcentual era de 8% entre as empresas de grande porte. Nas médias empresas, o aperto é maior. O porcentual passou de 15,2% para 21,2%. Com isso, a falta de capital de giro subiu para sexto lugar no ranking dos principais problemas enfrentados pela indústria no País. Pela primeira vez na série histórica da Sondagem Industrial, iniciada em 1999, as grandes empresas registraram mais dificuldade de acesso ao crédito do que as pequenas empresas. Segundo a CNI, esse resultado é reflexo da redução das linhas de crédito internacionais, que são mais acessadas pelas médias e grandes empresas. A pesquisa foi realizada entre 30 de setembro e 20 de outubro, com 1.443 empresas. Portanto, já abrangeu o momento mais crítico da crise a partir de 15 de setembro. Segundo a CNI, as grandes empresas já haviam sinalizado dificuldades no acesso ao crédito na sondagem do segundo trimestre, mas ainda não era possível avaliar claramente se eram reflexos da crise. Apenas dois setores não consideraram o acesso ao crédito difícil: máquinas e materiais elétricos e refino de petróleo. Castelo Branco acredita que a desaceleração da atividade econômica deve ser mais visível em no próximo ano, quando deve ser sentido o impacto do aumento dos juros e da redução dos prazos de financiamento. "Para nós, será uma perda de ritmo, mas não se pode falar em recessão. Vamos nos ajustar num patamar mais baixo do que os 5% ou 6% que estávamos crescendo", afirmou. O economista-chefe da CNI ainda lembrou que a atividade industrial continuou aquecida no terceiro trimestre, com aumento da produção, do emprego e da utilização da capacidade instalada.

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