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Cidades baianas enfrentam a seca de forma diferente

Por Tiago Décimo , ITIRUÇU e LAGOA REAL (BA)
Atualização:

Cidades do sudoeste baiano, Itiruçu, a 360 quilômetros de Salvador, e Lagoa Real, a 730 quilômetros, têm características em comum. As duas têm cerca de 13 mil habitantes, estão a mais de 700 metros de altitude, têm na agricultura de pequenos produtores a principal fonte de renda e sofrem, há pelo menos dois anos, com a seca que assola o semiárido do Estado - o índice pluviométrico médio de ambas, por volta de 800 milímetros por ano, despencou para 300 nos últimos dois anos. Em Itiruçu, porém, a população vem decrescendo, por causa do recrudescimento da migração da força de trabalho para outras regiões do País. Já em Lagoa Real, a população mantém o ritmo de crescimento, mesmo diante das dificuldades impostas pela seca.A chuva, apesar de fraca e inconstante, voltou no início de abril. O cenário deixado pela estiagem em Itiruçu, no entanto, ainda é desolador. "A simples volta da chuva, mesmo que caia no volume esperado nos próximos anos, já não é suficiente para superar os estragos causados pela falta de água", diz o prefeito, Wagner Novaes (PSDB). Itiruçu tem uma história atípica na Bahia. Colonizada por imigrantes italianos, que dividiram as terras em pequenas propriedades a partir da década de 1950, a cidade cresceu com a produção de hortaliças. No fim da década de 1970, começou o ciclo do café, responsável por empregos rurais de toda a região. No auge, em 1986, o município colheu 50 mil sacas de café. A produção incentivou a construção, em 1989, da maior fábrica da cidade, a Café Tenisi, do casal de imigrantes Bruno e Concettina Tenisi - donos de uma fazenda. A seca praticamente destruiu a produção. "Despencou, nos últimos três anos, para menos de mil sacas de café", conta o produtor e secretário de Desenvolvimento Econômico e Agrícola da cidade, Vincenzo Tenisi, sobrinho de Concettina. "Dos quase 2 mil trabalhadores em plantações que a cidade tinha há três anos, restam apenas 200." Hoje Concettina concentra os esforços, junto com os filhos, na torrefação, moagem e embalagem do café para a venda. "Compro os grãos de Minas Gerais, do Espírito Santo e de outras regiões da Bahia", diz a empresária, que emprega dez pessoas. A produção é de 8 toneladas de café moído por mês.Diferentemente de Itiruçu, Lagoa Real tem conseguido enfrentar a estiagem. "Há muitos problemas, mas estamos conseguindo diminuir a saída dos trabalhadores e manter a economia funcionando", diz o prefeito Francisco José Cardoso de Freitas (PSD). Segundo ele, foi necessária "uma conjunção de fatores" para amenizar os estragos causados pelo que chamou "maior estiagem da história" - pela primeira vez, diz, a lagoa que dá nome à cidade está seca. Os principais: a localização de água subterrânea suficiente para irrigar boa parte das plantações, por meio de perfuração de poços (o que não ocorreu em Itiruçu), e grandes obras de infraestrutura na região."Como cerca de 80% da população mora na zona rural, foi fundamental a descoberta desses poços e, aliada a isso, a introdução de novas culturas, mais rentáveis." Segundo ele, 200 poços artesianos foram perfurados nos últimos dois anos.

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