No interior de MG, cidades temem impacto de mineração sobre o turismo

Moradores e prefeitos de áreas afetadas temem que exploração de potássio degrade o meio ambiente e prejudique os negócios

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Por André Borges
Atualização:
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BRASÍLIA – A instalação de grandes projetos minerários tem preocupado a população em diversos municípios do País, seja do potássio para produção de fertilizante ou mesmo de outros minérios encontrados nessas mesmas regiões. Neste ano, a cidade mineira de Andradas, município de 40 mil habitantes, foi alvo de dois pedidos para exploração de potássio. 

Diferentemente do que ocorre na região da Amazônia, onde o potássio é encontrado em áreas profundas de 800 metros, nessa região de Minas Gerais as rochas com potássio estão na superfície, ou seja, são necessárias aberturas de cavas amplas. A população da cidade, que já é base de exploração de minérios como a bauxita, reagiu e foi para as ruas protestar contra a ampliação da mineração em seu território.

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Na internet, foi criada uma petição online que soma 4,2 mil assinaturas contrárias às minerações no entorno de áreas de preservação ambiental e forte visitação turística, como a Serra do Caracol, Serra do Pau D'Alho, Pico do Gavião e o Caminho da Fé, a mais conhecida trilha de peregrinação do País, já percorrida por 72 mil pessoas.

Camila Bassi Teixeira, gestora executiva do Caminho da Fé, diz que, apesar de projetos minerários não estarem dentro de áreas já protegidas por tombamento paisagístico, com a Serra do Caracol, não há clareza sobre os pontos específicos que as empresas querem explorar e que, paralelamente, o tipo de mineração trará uma série de impactos às atividades de turismo, por comprometer o clima local, o tipo de tráfego e das atividades nestas cidades. “O risco é que o Caminho da Fé, por exemplo, perca parte de seu trajeto e tenha que deixar a cidade. Com isso, perde a população, os empreendedores, o prejuízo é enorme.”

Região da Serra do Caracol; pedidos de exploração de potássio preocupam a população local, que depende do turismo Foto: Guilherme Augusto Mikethor

A prefeita de Andradas, Margot Pioli, divide as preocupações. “Assim como toda a população, estamos bastante preocupados com os impactos ambientais e socioeconômicos que tal prática pode trazer, prejudicando o desenvolvimento da atividade turística, que é um dos focos da nossa gestão, por conta da geração de emprego e renda”, disse à reportagem. “Isso sem falar na preservação ambiental, que também tem o potencial de gerar emprego e renda, por meio da prática dos esportes de aventura, rotas de peregrinação como o Caminho da Fé, entre outras atividades.”

A gestão municipal informou que solicitou estudos para mensurar os impactos ao meio ambiente e que avalia realizar uma audiência pública.

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Margot Pioli disse ainda que “a movimentação popular que vem ocorrendo em Andradas é muito importante, reunindo vários segmentos contrários à prática da exploração de minérios em nossa região”.

Mina de potássio abandonada na Rússia; risco de degradação ambiental Foto: Gleb Garanich/Reuters - 27/09/2010

O que dizem as empresas

Os pedidos de mineração de potássio na região de Andradas foram apresentados pela empresa Minas Rio Mineração. Questionada pela reportagem sobre seus projetos e impactos, a companhia não quis comentar o assunto.

A Alcoa, que atua há 57 anos na região, não possui projetos para extração de potássio, mas requereu novas áreas para ampliar a produção de bauxita em Andradas. A empresa declarou, por meio de nota, que “não possui nenhum projeto atual ou futuro de mineração nas áreas da Serra do Caracol e do Pau D’Alho” e que os territórios de seu interesse “estão a mais de 1,5 quilômetro de distância da área de tombamento” paisagístico da serra.

Segundo a empresa, as áreas pretendidas não incluem os mananciais da cidade e, assim, não teriam impacto no abastecimento de água do município. “A bauxita encontra-se próxima à superfície e é extraída por retroescavadeira, sem utilização de explosivos e/ou geração de nuvem de poeira. A lavra de bauxita na região ocorre na superfície e em pequenos bolsões. Isto faz com que as áreas sejam abertas, operadas e reabilitadas rapidamente”, informou a empresa, ao acrescentar que “não haverá operação direta no trajeto do Caminho da Fé” e que “qualquer decisão será tomada em conjunto com a comunidade”.

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