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Cinema divide França e EUA em acordo de livre comércio

Paris não admite abrir o mercado de produtos culturais, temendo perder espaço para ‘enlatados’ estrangeiros

Por Andrei Netto e correspondente de O Estado de S.Paulo
Atualização:

PARIS - As negociações para um acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia, que começaram nesta semana, já sofrem sua primeira polêmica que pode resultar no travamento das discussões.

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O governo da França deseja vetar a inclusão do comércio de bens culturais no acordo, para proteger sua indústria cinematográfica da invasão americana.

O tema é sensível porque o presidente americano, Barack Obama, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, querem uma negociação ilimitada. A França, que tem poder de veto, não aceita, com apoio parcial da Alemanha da chanceler Angela Merkel.O assunto virou uma polêmica internacional durante a última reunião de cúpula do G-8, no início da semana, quando o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, acusou indiretamente o presidente da França, o socialista de François Hollande, de "reacionário" por bloquear as negociações entre os dois lados do Atlântico. O embaixador dos Estados Unidos para a União Europeia, William Kennard, reafirmou que Washington exige que todos os setores da economia estejam incluídos nas discussões. "Queremos que nossos negociadores tenham a liberdade de ter todos os temas na mesa", afirmou Kennard em Bruxelas. "Temos uma oportunidade histórica. Estamos em um momento de nossas relações com a União Europeia no qual há mais incentivo para cooperar do que para competir." Divergência. O governo da França, porém, entende diferente. Na quarta-feira, a ministra da Cultura francesa, Aurélie Filippetti, classificou o veto francês ao livre comércio de produtos culturais como "uma grande vitória sobre a qual não é mais possível voltar atrás".Segundo a ministra, porém, "é preciso continuar vigilante e mobilizado, porque o que acontece na Comissão Europeia revela uma vontade muito clara de enfraquecer uma certa concepção da cultura na Europa e de enfraquecer os mecanismos de financiamento do cinema europeu".A defesa da chamada "exceção cultural francesa" tem uma razão além do soft power diplomático que essa indústria representa. Segundo cálculos do governo da França, o cinema movimenta € 17 bilhões por ano e cria um milhão de empregos na União Europeia. O problema é que, segundo Washington, a indústria cinematográfica francesa é sustentada por incentivos fiscais que tornariam desigual a concorrência com os produtos culturais americanos.O objetivo das partes é encerrar o acordo de livre comércio entre os dois lados do Atlântico até dezembro de 2014.

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