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Classe média argentina vende seus pertences

Por Agencia Estado
Atualização:

Desempregada e arruinada, grande parte da classe média argentina está precisando recorrer à venda de seus objetos familiares para poder sobreviver. A classe média argentina, que ao longo do século XX foi a mais ampla e próspera da América Latina, entrou no século XXI como uma espécie em extinção. Isso é o que indica o aumento dos leilões de obras de arte, objetos penhorados e clubes de escambo, através dos quais os integrantes da classe média tentam chegar até o fim do mês. Segundo o Banco de la Ciudad de Buenos Aires, o principal centro do país de leilões de objetos penhorados, as vendas entre março e julho aumentaram 30% em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre as peças que são exibidas no terceiro andar desse banco em pleno centro da capital do país, aparecem quadros de pintores famosos argentinos, que até poucas semanas decoravam as residências da ex-aristocracia portenha; tapetes persas; antigas toalhas de mesa de linho bordado; esculturas européias art-noveau e móveis de luxo, além de jóias e relógios. Uma parte significativa dos compradores são comerciantes de fora do país, turistas e estrangeiros residentes em Buenos Aires, mas com salários em dólares. Segundo Ignácio Gutiérrez Saldívar, diretor da principal galeria de arte do país, a Zurbarán, o número de lotes leiloados entre janeiro e agosto foi 40% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. A pressa em conseguir dinheiro cash faz que diversas pessoas vendam seus objetos de arte até por 10% de seu valor original. Com este cenário de penúria, quem não possui um quadro valioso ou jóias da avó, recorre a outro mercado, de objetos menos caros, os ?clubes del trueque?, ou, clubes de escambo. Estes clubes, que consistem na troca de serviços e produtos por outros serviços e produtos, envolvem atualmente 1,2 milhão de pessoas em toda a Argentina. Em pouco mais de dois anos, a complexidade das trocas causou o surgimento de um ?dinheiro? interno destes clubes, denominados ?créditos?, que possuem uma paridade de um a um com o peso. No total, circulam no momento 140 milhões de créditos na Argentina. Alguns municípios do interior aceitam créditos como forma de pagamento de impostos locais. Mais de 6 mil clubes de escambo espalham-se por todo o país. Do total de transações, 60% referem-se a alimentos. Além destes clubes, prosperam as lojas de ?cash converters?, onde os argentinos podem levar seus objetos para vendê-los a preços baixos e conseguir dinheiro em espécie na hora. Nas filas na frente destas lojas os arruinados integrantes da classe média levam para vender desde as raquetes de tênis que usavam na adolescência, até o CD-player comprado no ano passado. Além dos problemas de desemprego e de pobreza, os argentinos também precisam sustentar uma pesada carga tributária. Segundo o Centro de Implementação de Políticas Públicas para a Equidade e Crescimento da Fundação Sophia, os argentinos precisam trabalhar 103 dias por ano, desde o dia 1º de janeiro até o 13 de abril para ganhar dinheiro suficiente para pagar seus impostos federais. No ano passado, para chegar ao dia da ?libertação?, os argentinos precisavam trabalhar somente até o dia 8 de março para pagar seus tributos. O problema, para os habitantes deste país, ao longo dos últimos meses, é que enquanto os salários permaneceram estancados ou foram reduzidos, os impostos continuaram aumentando. Outro sinal da crise que assola a Argentina é o número de dias que os argentinos precisariam trabalhar para pagar os alimentos que um trabalhador e sua família consomem em todo o ano. Enquanto no ano passado precisava trabalhar desde o dia 1º de janeiro até o 12 de março, agora precisa trabalhar até o dia 20 de junho.

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