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Classe média encolheu no 1º ano do governo Lula

Por Agencia Estado
Atualização:

"O Brasil empobreceu violentamente em 2003, o primeiro ano do governo Lula." A afirmação é do professor do Instituto de Economia da Unicamp, Waldir José de Quadros, que está concluindo uma pesquisa sobre o encolhimento da classe média brasileira nos últimos vinte anos. Ao comparar a situação da classe média entre 2002 e 2003, o economista constatou uma perda de riqueza muito forte para o período de apenas um ano, só comparável ao que ocorreu no governo Collor, com o confisco dos depósitos e aplicações financeiras. "A situação é quase a mesma." A classe média alta foi a que mais encolheu. Em 2002, correspondia a 3,96% da população brasileira, mas caiu para 3,38% no ano passado. Houve uma queda, portanto, de 14,6%. Pelos cálculos de Quadros, a contração da classe média média foi de 6,9% no período, com uma queda de 7,10% para 6,61% do total da população. Já a classe média baixa foi a que sofreu retração menor, caindo de 22,15% para 21,30%, com redução de 3,83%. A contração é ainda mais acentuada, se o período de comparação for mais longo. Em 1981, o estudo mostra que a classe média alta era 4,16%, contra os 3,38% do ano passado. A classe média média encolheu de 7,60% para 6,61% entre 1981 e 2003. A retração da classe média baixa foi de 23,59% para 21,30% no ano passado. A partir de dados da última PNAD (deflacionados pelo INPC), Quadros define a classe média em três níveis. A classe média alta, com renda familiar acima de R$ 5 mil mensais. Em seguida, a classe média média, com renda mensal entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil e a classe média baixa, com renda mensal de R$ 1 mil a R$ 2,5 mil. Empobrecimento com recessão "O empobrecimento da classe média veio em conseqüência da política econômica do governo que jogou o País na recessão no ano passado", disse o professor Waldir José de Quadros. Ao ser rebaixada socialmente, a classe média reagiu, segundo ele, votando contra candidatos do PT. "A classe média elegeu Lula, porque estava descontente e apostou em mudanças, mas ficou frustrada." Mesmo ponderando que apenas opinava, o economista sugeriu que as derrotas de Marta Suplicy, em São Paulo, e Ângelo Vanhoni, em Curitiba, podem ser explicadas pelo voto de "raiva" da classe média. Para demonstrar a importância da classe média na Região Metropolitana de São Paulo, Quadros citou que a classe média alta e a média somadas totalizam 3,2 milhões de habitantes. A classe média baixa é formada por 5,6 milhões. Juntas, totalizam 8,8 milhões, praticamente a metade da população de 18,7 milhões. No momento, o economista desmembra os dados da PNAD para as nove regiões metropolitanas do País, além do Distrito Federal, pesquisadas pelo IBGE. Ao ser indagado se esses números poderão explicar a vitória do PT em capitais do Nordeste, como Recife, Aracaju e Fortaleza, em contrapartida às derrotas, Quadros disse que, a princípio, uma explicação é a de que o tamanho da classe média é tremendamente maior nos grandes centros. Logo após o 2º turno das eleições municipais, o presidente do PT, José Genoino, deu sinais de que o partido diagnosticou o descontentamento da classe média e que vai tentar reverter essa situação de olho na eleição de 2006. Em uma entrevista, ele disse: "Temos de dialogar mais com os segmentos médios organizados da população, adequar o discurso, corrigir posturas e atos, além de compreender que a disputa política cada vez mais vai exigir do PT um nível de preparo e elaboração". Nesta semana, o presidente Lula deu outra demonstração de que o partido quer resgatar o apreço da classe média, ao pedir a equipe econômica que corrija a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física que está congelada. Padrão de vida dos mais pobres não melhorou O empobrecimento da classe média não foi contraposto a uma melhora do padrão de vida dos mais pobres. A pesquisa do professor do Instituto de Economia da Unicamp, constatou o contrário: houve uma elevação da fatia populacional dos mais pobres, na comparação entre os anos de 2002 e 2003. A pesquisa divide os mais pobres em três níveis: a massa trabalhadora, com renda mensal entre R$ 500 e R$ 1 mil. Os trabalhadores com renda ínfima, entre R$ 500 e R$ 250 mensais e, por fim, os indigentes, com renda mensal abaixo de R$ 250. Em 2002, a massa trabalhadora correspondia a 26,77% da população, contra 26,66% no ano passado. Situação praticamente estável, mesmo quando comparada com 81, quando essa parcela era de 27,12%. Já entre os trabalhadores com renda ínfima, a fatia era de 21,67% em 2002, contra 22,11% no ano passado. Aqui ocorreu um leve crescimento, fazendo com que essa faixa da população voltasse à situação de 81, quando correspondia 22,01% do total da população. O último grupo, os indigentes, eram 18,24% em 2002, contra 19,80% no ano passado. Neste caso, houve uma expansão expressiva já que, em 81, esta parcela era de 15,50%. Somados, esses seis níveis de população (três de classe média e três que representam os mais pobres) correspondem a 100% da população brasileira. Quadros explicou que os a população rica é "estatisticamente desprezível". Pelos critérios do IBGE, os mais ricos têm renda familiar mensal acima de R$ 6,9 mil. A PNAD não consegue captar com precisão informações sobre esse pequeno grupo da população, o que dificulta estudos.

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