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Clima ajuda e safra de caqui é farta este ano

No sudoeste paulista, principal região produtora de variedades sem tanino, galhos são até escorados, de tantos frutos

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

O caqui fuyu está em plena safra na região de Sorocaba (SP) e os produtores têm motivos para comemorar. O clima favorável ajudou a carregar as árvores com frutos abundantes e saborosos. A alta produtividade compensou em parte os preços pouco atraentes no pico da colheita. Alguns pomares de Piedade e Pilar do Sul foram afetados pelo granizo na fase de maturação dos frutos. O revés não foi, porém, suficiente para prejudicar a boa safra e pode-se adquirir fruta de qualidade por preço acessível.O Estado de São Paulo é o maior produtor de caqui do País. Os pomares estão presentes em 25 das 40 regiões agrícolas paulistas.Quatro delas - Mogi das Cruzes, Campinas, Sorocaba e Itapeva - detêm 89% da produção, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta). Nos últimos 15 anos, a produção paulista quase dobrou, passando de 69 mil para 112 mil toneladas por ano. Nas regiões de Sorocaba e Itapeva predomina o cultivo do caqui sem tanino, de polpa consistente e crocante, como o fuyu. O produtor Sérgio Komiya, de Nova Campina, região de Itapeva, mantém um pomar com 2 mil pés de fuyu com idade entre 15 e 30 anos na Fazenda Perobal. Este ano, está colhendo até 200 frutos por caquizeiro, ou 70 quilos por planta. Descontadas as perdas para os pássaros (cerca de 15%) e pela alta incidência de fruto mole, o rendimento final é de 130 frutos por planta. Os caquis maiores, com até 410 gramas, são vendidos por R$ 1,30 a unidade, e os médios, com 300 gramas, por R$ 1. A produção é embalada na própria fazenda e vendida para o mercado interno.O problema, segundo Komiya, é que, além dos percalços de uma atividade agrícola cada vez mais cara, o produtor arca com custos elevados na hora de vender. "Cada embalagem do tipo caixa de papelão para duas camadas de fruta custa R$ 2,87, mais imposto. A comissão do entreposto (Ceagesp) é de 17%. Pagamos ainda R$ 0,28 por caixa para a descarga, mais R$ 1 de frete." Considerando que uma caixa de bom padrão com 16 frutas é vendida por R$ 20, tirados os custos do pós-produção, sobram R$ 12,85. Komiya não usa cobertura com sombrite porque acredita que a radiação solar tem papel importante na eliminação de resíduos das pulverizações. O uso de insumos químicos é reduzido graças ao controle de moscas e insetos com iscas e armadilhas. O produtor gosta de manter os pomares próximos das condições naturais. Na entrelinha das plantas, semeia cobertura vegetal para atrair ácaros e outros insetos que, na ausência do mato, atacariam os caquizeiros. Este ano, teve uma incidência alta do fruto mole (amolecimento precoce), cujas causas ainda são investigadas. Em alguns caquizeiros, 70% dos frutos amoleceram.Em Piedade, o produtor Leo Mimoto obteve produção média de 50 quilos por planta em seu pomar com 500 caquizeiros. Ele comemora a boa safra, que contrasta com a do ano passado, quando o pomar enfrentou estiagem e a produção não chegou a 10 quilos/planta. Mimoto plantou os caquizeiros há 19 anos, mas, em razão dos preços baixos, deixou de cuidar da lavoura. "De tanto tomar prejuízo, passei a me dedicar mais aos legumes, mas o pomar já é um capital aplicado e decidi dar mais atenção."A tendência de recuperação do mercado levou-o a investir em tratos culturais. Após a colheita, em junho, fará a poda dos ramos e, em seguida, iniciará o calendário de adubações e pulverizações. Este ano, está vendendo o caqui por R$ 15 a R$ 20 a caixa. Com o resultado da safra, Mimoto pretende investir na cobertura de parte do pomar com tela do tipo sombrite, a fim de retardar a colheita em um mês e meio e obter preços melhores. No pomar sombreado os frutos demoram mais para amadurecer.A prática já é adotada por produtores de Pilar do Sul, como Akira Morioka, com 3 mil caquizeiros de 18 anos. Morioka usa irrigação e cobre as plantas com sombrite. O município concentra produtores tecnificados, ligados à Associação Paulista de Produtores de Caqui. Apesar do câmbio pouco favorável, eles ainda exportam parte da produção, sobretudo para a Europa, que paga 30% a mais que o mercado interno.Colha e pague. O fruticultor Márcio Tadakasu Sakaguti, de Piedade, prefere vender a produção de seus 1.200 caquizeiros no mercado interno. Entre 30% e 40% das 50 toneladas previstas serão vendidas no Ceasa de Sorocaba. O restante é consumido no próprio pomar ou levado pelos turistas. O produtor é pioneiro na região no sistema "colha e pague", em que o consumidor paga uma taxa e colhe diretamente no caquizeiro toda fruta que puder comer. Ele também pode levar o caqui escolhido no pé para casa.O sistema virou atração e foi incluído no calendário turístico do município. Na edição deste ano, os caquizeiros do Sítio Sakaguti terão atraído mais de 3 mil visitantes até o fim de abril, quando se encerra o período de turismo rural. Conforme o produtor, os pés carregaram tanto que foi preciso ampliar o escoramento das ramas. "Deu praticamente o dobro de caqui do que em 2010", diz. Além disso, os frutos estão maiores e mais saborosos. "O frio veio na hora certa e tivemos muito sol, por isso o teor de açúcar é alto, entre 24 e 25 graus brix", diz.A atividade turística é acompanhada de perto por guias e monitores treinados, como Diogo Tricta e Nestor Domingues, para que as plantas sofram o mínimo de impacto. "Fazemos o turismo durante no máximo um mês para evitar o pisoteio excessivo do pomar", diz Tricta. Após o encerramento da safra, será feita a poda de inverno e a adubação com compostagem - o produtor aboliu os adubos químicos. Sakaguti é um dos pioneiros em caqui fuyu na região e algumas plantas já têm mais de 50 anos. Mesmo assim continuam muito produtivas e devem seguir produzindo até os 100 anos, segundo ele. "Quanto mais velha a árvore, mais doce o fruto", diz.O caqui fuyu é a variedade mais cultivada pelos produtores do sudoeste paulista porque se adaptou bem à região e serve para a exportação. Além disso, tem a colheita mais tardia do que outras variedades. As de caqui mole ou com tanino, como rama forte, giombo e taubaté, são cultivadas sobretudo em Campinas. Após colhidas, as frutas passam por um processo de destanização em câmaras de maturação.BonançaMÁRCIO TADAKASU SAKAGUTIFRUTICULTOR EM PIEDADE (SP)"Deu o dobro de caqui do que no ano passado. O frio veio na hora certa e tivemos muito sol, por isso o teor de açúcar é bem alto, entre 24 e 25 graus brix."Da Ásia para o BrasilO caqui é originário da Ásia. Com a imigração japonesa, em 1920, ganhou força no Brasil. SP concentra 92% da produção nacional, com 1,2 milhão de plantas.Na ponta do lápis4,29 milhões de caixas de 26 quilos foi a produção paulista da fruta em 20101,2 milhão de plantas é o tamanho do pomar do Estado de São Paulo, o maior produtor130 frutos/planta é o que alguns produtores colhem agoraPASSO A PASSOTécnicas para reduzir pulverizações1. Sem uso de sombrite a radiação solar pode ajudar a eliminar mais rapidamente resíduos das pulverizações, acredita um produtor de caqui da região de Itapeva.2. Outra dica para tornar o cultivo mais limpo é usar contra mosca-das-frutas, em vez de pulverizações, armadilhas e iscas, instaladas sob as árvores. 3. Manter cobertura verde entre as linhas do pomar também é prática ecológica, porque ajuda a atrair ácaros e outros insetos, que, de outra forma, atacariam os caquis.

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