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Clima pesa mais para investidor do que trapalhada política no Brasil, dizem executivos em Davos

Polêmicas envolvendo questões como as queimadas na Amazônia podem afetar decisão de fazer investimentos no País , segundo participantes do Fórum Econômico Mundial

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast)
Atualização:

DAVOS - Polêmicas sobre meio ambiente respingam mais sobre a decisão do investidor internacional iniciar ou ampliar negócios no Brasil do que as recentes confusões políticas. Esse foi o sentimento de executivos brasileiros e estrangeiros consultados pelo Estadão/Broadcast informalmente nos corredores do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça

Protestos durante o 50º encontro anual do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Davos, na Suíça Foto: Arnd Wiegmann/Reuters - 22/1/2020

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Um assunto que tomou conta do noticiário internacional recentemente foi a demissão do dramaturgo Roberto Alvim, que parafraseou em discurso o ideólogo nazista Joseph Goebbels em vídeo no qual também se ouvia uma das obras favoritas de Hitler, a ópera Lohengrin, do compositor Richard Wagner. Após a exoneração, o ex-secretário da Cultura compartilhou mensagem no WhatsApp dizendo desconfiar de uma "ação satânica" por trás do vídeo e de sua demissão.

"Esse foi mais um caso em que o governo trocou os pés pelas mãos, mas, sinceramente, isso não mexe com os investimentos, apesar de afetar a imagem principalmente na Europa e, mais especificamente ainda, na Alemanha", disse um dos executivos consultados. Outro comentou que o caso chegou a ser "obsceno", mas ressaltou que a reação imediata das redes sociais pressionou o presidente Jair Bolsonaro a tirar Alvim do cargo.

Uma terceira fonte comentou ainda que, enquanto forem isolados, os casos são tratados no exterior apenas como alegoria. "Muita gente vê o Brasil aqui fora apenas como o País do Carnaval, da música e do futebol. Esse seria mais um novo perfil a ser reconhecido no exterior: o das trapalhadas do governo. Pode até não impedir investimentos, mas claramente também não ajuda."

Para os entrevistados, porém, o governo não pode mais brincar em relação ao clima, que ganhou atenção de todo o mundo nos últimos anos. O próprio Fórum tem dado destaque para o tema e uma das conversas nas ruas de Davos é a de que o frio este ano na pequena cidade conhecida pelos resorts de ski não está tão forte quanto em anos anteriores, quando a temperatura chegou a -23ºC. No geral, o inverno tem se mostrado menos rigoroso em toda a Europa e muitos atribuem essas temperaturas não tão baixas assim justamente às mudanças climáticas.

No início do segundo semestre do ano passado, os incêndios na Amazônia chamaram a atenção de todo o mundo. E três dos entrevistados ressaltaram a demora do governo em agir. "Se isso acontecer novamente neste ano, se houver queimadas na época mais seca e o governo demorar para agir, será um problema", anteviu um deles.

Outro entrevistado salientou que é "uma pena" o Brasil ser apontado no exterior por causa dos incêndios na Amazônia justamente em um momento em que o setor produtivo e financeiro parece ter aderido à causa por meio de seus produtos, serviços e instrumentos. "O Brasil tinha tudo para estar nessa vanguarda, mas provavelmente perderá mais uma vez o bonde, e por bobagem", lamentou. 

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