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CMN enfrenta dilema na definição da meta de inflação

Por Agencia Estado
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A preocupação do governo ao fixar a meta de inflação para 2004 é, ao mesmo tempo, mostrar um número que pareça realista ao mercado, diante das turbulências vividas nos últimos anos, e sinalizar claramente que a trajetória é de queda. O Banco Central não quer colocar em risco a credibilidade do sistema. Por isso, a rejeição por parte de integrantes da equipe econômica em alterações da meta já fixada. Mas, por outro lado, é preciso deixar claro o intervalo factível que será perseguido nos próximos anos. O assunto será o tema central da reunião de amanhã do Conselho Monetário Nacional (CMN). Inicialmente o mercado financeiro não vê com bons olhos uma alteração na meta fixada em 3,25% para 2003, como chegou a ser cogitado. O motivo é simples: um país que não tem tradição de cumprir regras poderia passar aos investidores - especialmente, aos estrangeiros - a idéia de que se o sistema pode ser alterado hoje, isso poderá se repetir no futuro, quando uma nova equipe estiver no comando do governo. No entanto, alguns analistas afirmam que não se pode ter metas que, de antemão, sabe-se, não serão cumpridas. No ano passado, o índice de inflação já ficou 1,7 ponto porcentual acima do teto da meta, fixada em 4% com intervalo de variação de dois pontos porcentuais. Diante dos choques verificados na economia em 2001, o próprio presidente do BC, Armínio Fraga, admitiu que o centro da meta de 3,5%, para este ano, não era mais o alvo perseguido pelo BC mas, sim, algo entre 4,5% e 5%. O discurso do governo foi que, apesar da mudança, o importante era sinalizar uma trajetória decrescente. Para o ano que vem, a meta é 3,25%, também com o intervalo de dois pontos. A ata última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) afirma que as projeções apontam um valor abaixo desse porcentual. No entanto, a persistente alta do dólar e a instabilidade que deverá permanecer por um período nos mercados, em função do cenário eleitoral, deverá pressionar as estimativas para o ano que vem. Esse foi o principal motivo para o Copom não reduzir os juros na última reunião. Por outro lado, o nível de atividade econômica está muito baixo e o BC se vê de mãos amarradas para estimular a economia com o cenário turbulento atual. Diante disso, aceitar um intervalo de inflação maior para 2003 possibilitaria uma postura mais agressiva na condução da política monetária e, também, a definição de uma meta de inflação para 2004 acima dos 3,25% determinados para o ano que vem. "Se optar por aumentar o intervalo de flutuação da inflação para 2003 ou para 2004, o BC estará correndo o risco de registrar índices crescentes, o que seria muito ruim", avalia o economista Roberto Padovani, da Consultoria Tendências. "O fato é que o intervalo atual não está sendo suficiente para acomodar os choques vividos pela economia", afirma a economista Sandra Utsumi, do BES Investimento. "Segundo o diretor Ilan (de Política Monetária), o intervalo atual de dois pontos tem 90% de confiabilidade mas não acomoda os choques de oferta verificados nos últimos anos", completa. A decisão final está nas mão do ministro da Fazenda, Pedro Malan, que comanda a reunião do CMN marcada para o final da manhã desta quinta-feira.

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