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Repórter especial de economia em Brasília

CMN pode ter decisão sobre programas do BC

Proposta apresentada por economistas do setor privado prevê controle sobre políticas de alto impacto fiscal, como os swaps cambiais

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Por Adriana Fernandes
Atualização:
Transferência teria apoio do ministro Barbosa Foto: Reuters

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, vê com simpatia a proposta de transferir para o Conselho Monetário Nacional (CMN) a responsabilidade sobre decisões de políticas com grandes custos fiscais para as contas do governo. Essas políticas, com alto impacto fiscal, incluem a manutenção do nível de reservas internacionais em patamares elevados e os programas de swaps cambial (venda de dólares com compromisso de recompra) realizados pelo Banco Central.

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A ideia está sendo avaliada por economistas do setor privado, entre eles o ex-presidente do BC, Armínio Fraga, que fez um texto para discussão divulgado pelo Instituto de Políticas Econômicas – Casa das Garças.

Para Fraga, por ser um colegiado pequeno, o CMN tem condições de ser ágil para a tomada da decisão. “A proposta é que a responsabilidade dessas políticas de custo elevado sejam compartilhadas com a autoridade fiscal”, explicou Fraga.

Sua proposta é que seja dada ao BC uma alçada limitada de risco. E que decisões que impliquem riscos maiores sejam submetidas ao CMN, em que a área fazendária tem maioria. Fraga propõe que decisões com riscos maiores do que 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) sejam submetidas ao CMN.

Criado em 1964, o CMN é o colegiado responsável pelas diretrizes do sistema financeiro nacional. Entre suas atribuições está a coordenação das políticas monetária, creditícia e orçamentária da dívida pública. É formado pelos ministros da Fazenda, BC e Planejamento, que se reúnem uma vez por mês.

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Títulos. Segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, Barbosa concorda com a transferência da alçada decisória do BC para o CMN. Mas o Ministério da Fazenda não é favorável à volta da possibilidade de o BC emitir títulos para servirem de lastro às operações compromissadas. A proposta estaria sendo defendida nos bastidores por diretores do BC que não querem depender do Tesouro para a execução da política monetária.

A discussão em torno dessas propostas ganhou terreno nos últimos meses no Brasil por causa da polêmica no mercado financeiro em torno do tamanho e do crescimento da conta única do Tesouro, provocada pelos lucros que o BC obteve com o impacto da variação das reservas internacionais e também das operações compromissadas.

Realizadas pelo BC para o enxugamento da liquidez de recursos no mercado, as operações compromissadas cresceram muito nos últimos anos em razão da compra das reservas internacionais e já estão no patamar de R$ 1 trilhão. É que com a compra de dólares para abastecer as reservas, o BC teve de enxugar recursos em reais liberados no mercado, movimento conhecido no jargão financeiro como “esterilização” das reservas.

Foi essa polêmica que levou a Fazenda a começar a preparar mudanças nas regras. A primeira foi a criação de depósitos remunerados, como instrumento de política monetária do BC para substituir parte das operações com compromissadas.

O projeto de lei complementar que autoriza o BC a criar esses depósitos foi enviado no mês passado, junto com as medidas de socorro aos Estados. Mas o governo prepara um outro projeto que vai tratar do lucro do BC. Na avaliação de Fraga, a acumulação das reservas e posições em larga escala com derivativos cambiais têm como consequência direta a assunção de riscos fiscais importantes pelo BC. “Confundem-se, portanto, os regimes fiscal e monetário”.

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