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CNI: valorização do real ameaça exportadoras

Por Renata Veríssimo
Atualização:

O gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o economista Flávio Castelo Branco, afirmou hoje que o processo de valorização do real frente ao dólar ameaça o crescimento de empresas de pequeno e médio porte que atuam no mercado externo. Segundo ele, houve uma ampliação do número de empresas de menor porte nesse mercado, nos últimos anos, apesar do maior desempenho do comércio exterior estar localizado nas empresas de grande porte. "Mas, acho que este movimento está ameaçado", afirmou o economista ao divulgar a Sondagem Especial realizada pela CNI sobre os efeitos do câmbio nas empresas brasileiras. A pesquisa mostra que 46% das médias empresas diminuíram a sua participação no mercado externo nos últimos 12 meses e 6% pararam de exportar. Esse porcentual é maior do que no segmento de pequenas ou grandes empresas. Para o economista da CNI Paulo Mol, as pequenas empresas já tinham sofrido com o processo de valorização do câmbio e muitas já tinham deixado de exportar. Para ele, o resultado da pesquisa mostra que o processo agora está se exaurindo para as empresas de médio porte. "As exportações começam a se deteriorar. O processo saiu do patamar das pequenas empresas e passou para as de médio porte", afirmou Mol. Médias perdem espaço Pelos dados da CNI, metade das empresas de médio porte é exportadora. A sondagem industrial mostra que, além de estarem perdendo espaço tanto no mercado doméstico quanto no exterior, as empresas brasileiras estão mais dispostas a utilizarem insumos importados como uma das estratégias para minorar os efeitos da perda de competitividade causada pelo câmbio. A sondagem mostra que, do universo de empresas que perderam participação no mercado doméstico, 12% passaram a utilizar insumos importados em 2007 ou 2008 e 17% não usam, mas pretendem passar a importar esses insumos. O economista destacou que os efeitos do câmbio não são iguais em todos os segmentos ou portes de empresa. Segundo ele, as grandes empresas se posicionam mais fortemente no mercado e têm mais capacidade de reação. Para ele, as medidas adotadas pelo governo para ajudar os setores mais afetados pela valorização da moeda não tiveram uma intensidade suficiente para compensar a perda de competitividade provocada pelo câmbio. Ele lembra que, há cerca de três ou quatro anos, a cotação do dólar equivalia a R$ 3,00. Além disso, destacou, neste período as empresas tiveram aumento de custos. Castelo Branco disse ainda que as linhas de financiamento mais favoráveis para esses setores também têm sido pouco efetivas. Segundo ele, ou as linhas não são conhecidas pelas empresas ou muitas disseram não ter interesse pelo número de exigências ou pelo custo do financiamento. Em relação às desonerações tributárias, o economista disse que elas têm sido tímidas e que o maior problema ainda não foi atacado, que é a geração de crédito pela desoneração de ICMS das exportações. Castelo Branco disse que as empresas não conseguem utilizar esse crédito e, por isso, estão limitando a quantidade exportada para não ficar "com o mico na mão".

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