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COLUNA-Brasil é fichinha com Fed balizando juro e pouso da águia

Por ANGELA BITTENCOURT
Atualização:

O Brasil é "fichinha" na semana em que a bola vai rolar em gramado norte-americano. Prévias de inflação, composição da dívida pública, desempenho do comércio varejista e do emprego e as contas externas brasileiras terão sua relevância minimizada ante o poderoso movimento de capitais e a perspectiva de reprecificação global de ativos. Esses movimentos devem ser orientados pela definição do juro básico nos Estados Unidos, na terça-feira, quando o Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve discute política monetária para fixar uma taxa de juro referencial que tem grande chance de sinalizar a velocidade do pouso da águia. O Fed será o indutor do reposicionamento de investidores internacionais e a expectativa é de que a migração de capital entre os mercados tende a ser mais discreta quanto maior for a previsibilidade da decisão sobre o juro. Pesquisa Reuters com 20 dealers do mercado norte-americano de bônus mostra que 19 contam com corte do juro denominado pelas federal funds. Dos 19, 15 apostam em queda de 0,25 ponto percentual e quatro, em 0,50 ponto. Há nove reuniões consecutivas, desde 8 de agosto de 2006, o Fed mantém o juro básico engessado em 5,25 por cento ao ano. Essa taxa foi alcançada após dezessete elevações, também consecutivas, e que ergueram as federal funds de 1,0 por cento ao ano --mínima histórica em 40 anos. O Fed poderia seguir altivo, menos sensível aos clamores das economias periféricas e tocando a política que lhe convém, caso as dificuldades do mercado de crédito imobiliário e de hipotecas não tivessem vazado fronteiras, passando a infernizar a vida de bancos centrais, instituições financeiras e investidores no mundo inteiro há quase dois meses. SOPROS E ARRANHÕES De início, analistas internacionais acalentaram a esperança de um estouro estridente da "bolha" imobiliária --decorrência de imprudente alavancagem de operações por bancos internacionais de ampla visibilidade e excessiva valorização dos ativos. Mas a suposta explosão traiu os incautos, dando lugar a um estalido. Feridos há, mas os bancos centrais, grandes e pequenos, estão assoprando arranhões. Há semanas, os bancos centrais jogam moeda nos mercados, evitando desastres maiores que podem ser decorrentes do empoçamento de liquidez ou, em outras palavras, da concentração de recursos nos caixas de poucos que resistem a emprestar recursos ao próprio sistema bancário para evitar riscos. A efetiva dimensão da crise imobiliária tem sido camuflada pela necessária ação dos bancos centrais. Cresce, contudo, a expectativa de que, mesmo com os bancos centrais em mercado repassando moeda para as instituições que passam apuros de caixa, os estragos da crise imobiliária comecem a ser revelados. Perdas tendem a ser exibidas nos balanços de grandes bancos de investimentos norte-americanos. REVELAÇÃO PROGRAMADA A semana será pródiga, portanto, para colocar tudo em pratos limpos com a divulgação dos resultados trimestrais das instituições. De terça à quinta-feira, haverá uma concentração de anúncios de resultados do terceiro trimestre: Lehman Brothers Holding, Morgan Stanley, Bear Stearns e Goldman Sachs. A Reuters Estimates projeta queda do lucro por ação para três das quatro instituições no terceiro trimestre deste ano, ante igual período de 2006. A exceção, com previsão de resultado positivo, é a Goldman Sachs. Neste caso, a estimativa é de ganho por ação de 4,32 dólares ou 32,5 por cento frente a 3,26 dólares registrados no terceiro trimestre do ano passado. O lucro por ação projetado para o Bear Stearns é de 1,98 dólares no terceiro trimestre deste ano ou 34,4 por cento inferior aos 3,02 dólares do terceiro trimestre de 2006. Para o Morgan Stanley, a projeção é de redução do lucro por ação de 6,3 por cento, com o resultado passando de 1,75 para 1,64 dólar por ação de um período para outro. E para o Lehman Brothers, que apresenta seus dados na terça-feira, a estimativa é de lucro por ação de 1,54 dólar no terceiro trimestre deste ano --1,9 por cento abaixo de 1,57 dólar um ano antes. CORPO PRESENTE O chairman do Fed, Ben Bernanke, também será alvo de atenção global na quinta-feira. Dois dias após a reunião que discutirá o juro norte-americano, Bernanke comparecerá a audiência no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados dos EUA. Steve Admaske, porta-voz da comissão, disse na quinta-feira que a audiência deve tratar de assuntos relacionados ao setor de hipotecas. Conforme relato de Tom Ahmann, da Reuters em Washington, o porta-voz do comitê afirmou que a audiência com Bernanke vai examinar as medidas propostas pelo presidente George W. Bush no fim de agosto para evitar o aumento da inadimplência nas hipotecas por meio de ajuda aos proprietários de imóveis.

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