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COLUNA-Brasil e seu setor de carnes, grandes vencedores do embargo russo aos EUA

A tradição brasileira de exportar carne bovina aos russos, ainda que com alguns soluços de barreiras técnicas temporárias inexplicáveis nos últimos anos, casou perfeitamente com a necessidade de cobrir a demanda da Rússia gerada pelo embargo a produtos dos Estados Unidos e de seus parceiros ocidentais. O embargo russo foi anunciado coincidentemente num momento de intensas negociações entre os governos do Brasil e da Rússia no setor de carnes, e apenas três semanas após visita do presidente russo, Vladimir Putin, à Brasília. Ainda que ninguém decente goste de tirar vantagens dos problemas de outros, sobretudo de problemas resultantes de um conflito geopolítico, o fato é que a crise na Ucrânia, que pôs em lados opostos o Ocidente e a Rússia, fez cair no colo do Brasil, líder na exportação de carnes bovina e de frango, uma demanda adicional dos consumidores russos, grandes importadores. O número de unidades de carnes bovina, suína e de aves do Brasil habilitadas a exportar aos russos mais do que triplicou de um dia para o outro, para 139 plantas, na mesma data em que a Rússia anunciava o embargo, por pelo menos um ano, a produtos dos EUA, da União Europeia e de alguns outros, em retaliação a sanções aplicadas pelos norte-americanos e seus parceiros à Rússia. Muitas das unidades habilitadas são de grupos brasileiros líderes globais, como a JBS <JBSS3.SA> e a BRF <BRFS3.SA>, além de outras companhias nacionais com importância na exportação de carne bovina, como Minerva <BEEF3.SA>, segunda no ranking de vendas externas. O caso da JBS, maior produtora global de carnes, é peculiar, já que grande parte de sua receita vem justamente dos negócios nos EUA, o que gera dúvidas sobre seus eventuais ganhos gerados pelo embargo russo. Tais temores sobre perdas da JBS com tal banimento temporário são injustificáveis, no entanto, e a empresa comandada pela família Batista deverá mesmo sair vencedora de tal retaliação comercial. Isso porque as exportações da unidade JBS USA para a Rússia representam parcela ínfima do total exportado pela companhia. Em 2013, as exportações totais consolidadas do grupo JBS somaram 11,76 bilhões de dólares, e a Rússia respondeu por uma fatia de 5,7 por cento disso, segundo balanço da empresa. A maior parte das exportações da JBS, que tendem a crescer com o embargo russo aos EUA, tem origem nos países do Mercosul, especialmente Brasil, mas incluindo também Paraguai e Uruguai. A companhia não detalha a origem de suas vendas nas divulgações, apenas os principais destinos, e não se manifestou sobre o assunto nesta quinta-feira por estar em período de silêncio antes da divulgação de resultado trimestral. A Reuters apurou que as exportações da JBS USA para a Rússia representam menos de 2 por cento das vendas externas totais do grupo. A Rússia praticamente já não compra carnes bovina e suína dos EUA, em função de um embargo técnico decorrente do uso do aditivo ractopamina pelo rebanho norte-americano, o que já beneficia o Brasil há algum tempo. Os brasileiros hoje exportam carne para os russos livre desse estimulante de crescimento. Em frango, os russos têm compras importantes nos EUA, que agora poderão vir diretamente para a indústria do Brasil, maior exportador global desse tipo de carne. E a JBS, após uma série de aquisições nos últimos anos no Brasil, está bem posicionada para tal situação. Com as recentes compras de três plantas instaladas no Brasil da norte-americana Tyson Foods, a JBS deve elevar para 5 milhões de aves a capacidade de abate diário, contra 7 milhões da BRF, líder global na exportação de carne de frango e outra grande vencedora dessa disputa entre a Rússia e o Ocidente. Associações do setor não traçaram perspectivas exatas para o aumento das exportações do Brasil para suprir a demanda adicional da Rússia, mas dizem ter capacidade de atender o que os russos desejarem, com exceção do setor de carne suína, com oferta apertada de animais e cujo ciclo de criação é mais longo que o de aves, por exemplo.

Por (O AUTOR É EDITOR DE COMMODITIES &AM
Atualização:

* Esta coluna foi publicada no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters, na quinta-feria, 7 de agosto.

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