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COLUNA-Brasil marcha, mas bonança dependerá da vigília do BC

Por ANGELA BITTENCOURT
Atualização:

O Brasil não deve reprisar 2004, mas se prepara para exibir em 2007 a segunda melhor taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do governo Lula. Em 2004, o país cresceu 5,7 por cento. Em 2007, poderá crescer 5 por cento. Essa marca, alardeada pela área econômica desde o ano passado, já foi abraçada pelo mercado, que espera, contudo, que o Banco Central assegure a forte expansão em condições adequadas --inexistentes três anos atrás. O salto da economia em 2004 pressionou a inflação e levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a puxar o juro básico sucessivas vezes. A Selic, de 16,50 por cento em janeiro de 2004, foi alçada até 19,75 por cento em 2005, quando, em setembro, o Copom deflagrou um ciclo de cortes interrompido apenas na última quarta-feira --com o juro instalado em 11,25 por cento ao ano. O aperto monetário provocou estrago no nível de atividade. Em contrapartida, a inflação caiu a menos da metade do que era, aumentando a previsibilidade de outros indicadores macroeconômicos e impulsionando a confiança de empresários e consumidores. A reação do BC a uma expansão de atividade sem sustentação, evidenciada no segundo ano do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi lembrada quando o Copom decidiu colocar o pé no freio há menos de uma semana. "O papel do BC é tão relevante neste momento que, apesar da carregada agenda de indicadores que serão divulgados nos próximos dias, o que realmente importa é a ata do Copom", afirma Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora. "O mercado está dando muita bola para a palavra 'pausa' e para o placar unânime da decisão de manter a Selic estável", comenta Montero, que fala com experiência de quem já esteve do outro lado do balcão --no setor público. CONSENSO IMPERATIVO "Algumas decisões simplesmente não podem ser divididas", explica. "Elas devem ser unânimes. O porte de uma decisão como a tomada pelo Copom, de manter o juro básico do país, precisa da unanimidade. Não é possível imaginar Henrique Meirelles convencendo o governo sobre a decisão sem a coesão dos membros do Copom, assim como não é possível imaginar o presidente Lula defendendo o BC com base numa decisão sem consenso." O economista diz que é simples assim e, exatamente por esse motivo, "o placar de uma reunião do Copom não pode ser tomado como indicativo dos rumos da política monetária". É na ata do Copom, que sai na quinta-feira, que o BC poderá dar sentido à "pausa" no corte do juro. "A ata deve apresentar um balanço de riscos mais equilibrado, com perspectivas de melhora para a inflação, mas confirmando os sinais fortes da atividade. Sinais que não parecem transitórios", diz Montero. INDICAÇÃO REVELADORA Montero comenta que se a produção industrial cresce, se as importações crescem e os estoques continuam baixos isso significa mais oferta e também mais demanda na economia. "Na prática, há demanda para tudo e os dados das pesquisas do IBGE confirmam", diz. Ele não despreza a forte expansão dos investimentos na produção, mas alerta que investimentos não inibem superaquecimento da demanda, principalmente quando ela é puxada por crédito e gastos públicos. A Convenção Corretora construiu um indicador agregado da demanda final de bens, e o resultado discrepante evidencia uma demanda que marcha a taxas muito fortes. "Juntamos as vendas do comércio ampliado com os investimentos em máquinas e equipamentos estimados a partir de seu consumo aparente. Esse agregado da demanda de consumo e de investimentos em bens tipicamente comercializáveis registra um crescimento interanual próximo de 18 por cento no último trimestre móvel, ante expansão de 6,6 por cento na produção industrial." GARANTIA DE ENTUSIASMO Constatações como essa a que chegou Fernando Montero convenceram o mercado de que o Copom foi prudente ao optar pela "pausa" no ciclo de corte da Selic. A "pausa" acabou permitindo que o mercado recebesse com entusiasmo o crescimento das vendas do comércio varejista à taxa de quase dois dígitos em 12 meses encerrados em agosto. E a indústria não vai cortar o barato garantido pelo vigor do varejo. Em 15 dias, o IBGE divulgará a produção industrial de setembro e a perspectiva é de aumento superior a 6 por cento --também com base em 12 meses. Essa sinalização vem da cesta de indicadores antecedentes do ritmo de atividade compilados pela Tendências Consultoria Integrada, que reúne consumo de energia, produção de veículos, expedição de papelão e tráfego de caminhões que pagam pedágio nas estradas brasileiras. Cláudia Oshiro, analista da Tendências, explica que a combinação desses indicadores projeta avanço da produção industrial de 0,5 por cento em setembro frente a agosto, já descontados efeitos sazonais, ou 6,1 por cento ante igual período do ano passado.

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