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Com a corda no pescoço, Petrobrás não pode recuar

Por Kelly Lima e Análise: Nicola Pamplona
Atualização:

Muito próxima de seu limite de endividamento, a Petrobrás deve manter o esforço para concluir a capitalização no prazo estipulado, embora haja pressão dentro do governo para o adiamento da operação. A empresa precisa do aumento de capital para não estourar o teto neste terceiro trimestre, período do ano em que tradicionalmente, investe mais. E, ao contrário do que se imaginava no início do ano, não parece haver um plano B.A Petrobrás fechou o segundo trimestre com uma dívida de cerca de R$ 120 bilhões e uma alavancagem (relação entre endividamento e patrimônio) de 34% - o limite imposto por sua política de gestão de dívida é de 35%. Até o fim de junho, tinha investido apenas 43% do orçamento previsto para o ano. Para cumprir com os investimentos prometidos de R$ 88 bilhões, terá de buscar mais empréstimos, prejudicando ainda mais a gestão da dívida. A sucessão de obstáculos à conclusão da capitalização, porém, indica que governo e empresa calcularam mal os riscos envolvidos na operação. Desde a demora na aprovação dos projetos de lei do pré-sal pelo Congresso à surpreendente diferença de avaliações do poço Franco pelas duas consultorias contratadas; são vários os indícios de que o caminho está sendo mais tortuoso do que se previa.Tanto que há pressão em alguns setores do governo para o adiamento da operação, para que questões como o preço do barril sejam melhor esclarecidas, permitindo alguma recuperação do valor de mercado da companhia. As ações preferenciais da companhia fecharam o pregão de ontem na Bolsa de Valores de São Paulo a R$ 26,60, quase R$ 10 a menos do que valiam no início do ano. A emissão de novas ações nesse momento seria melhor para os acionistas, que pagarão preços mais atrativos, do que para a empresa.Com a corda no pescoço por conta dos investimentos prometidos, a Petrobrás terá de aceitar a perda. No início do processo, dizia-se que haveria um plano B: uma capitalização de menor porte, sem cessão onerosa de reservas pelo governo. A hipótese foi prontamente desmentida pela direção da companhia, embora pudesse resolver problemas imediatos, enquanto uma nova emissão de ações fosse preparada.A elaboração do plano B naufragou. E a única alternativa para um eventual novo adiamento da oferta passa a ser a postergação de investimentos, principalmente nas grandes refinarias do Rio, Maranhão e Ceará - que seria bem recebida pelo mercado financeiro, mas mal digerida por aliados políticos na reta final das eleições.

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