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Com a seca, empresas já pagam mais até por energia negociada para 2015

Valor dos contratos de eletricidade para os próximos meses disparou, o que leva empresas que já tinham fornecimento garantido a cogitar diminuir a produção e revender sua sobra de energia

Por Wellington Bahnemann e da Agência Estado
Atualização:

RIO - A situação crítica dos reservatórios das hidrelétricas já repercute negativamente nos negócios do mercado livre - ambiente onde as empresas compram energia diretamente dos geradores sem a intermediação das distribuidoras, como ocorre com os consumidores residenciais.

Desde o início do mês, o preço da energia no mercado à vista, chamado de PLD, está no valor máximo de R$ 822,23 o megawatt hora (MWh). Esse preço varia conforme as condições de geração e baliza o preço dos contratos feitos pelos consumidores do mercado livre. Se o regime de chuvas está ruim, mais térmicas são acionadas e o preço sobe. Se os reservatórios estão cheios, ele cai. Foi o que ocorreu no início de ano, com as chuvas abaixo das previsões.A alta do PLD tem feito as grandes indústrias repensarem as estratégias para o ano. Algumas fazem contas para ver se vale a pena reduzir o consumo para lucrar com a venda do excedente da energia, enquanto outras buscam maneiras de ajustar a produção ao volume de energia contratada, para evitar penalidades e adquirir energia no mercado à vista (pelo preço de R$ 822 o Mwh). O diretor comercial da comercializadora Bolt Energias, Rodolfo Salazar, diz que, pelo menos, três clientes da empresa no setor têxtil avaliam diminuir ou até parar a produção. "As margens do setor são baixas, e, com a alta do PLD, é como se pagassem para fabricar os produtos." Dois dos consumidores avaliam parar as fábricas para não ficarem expostos ao mercado à vista, enquanto um deles, 100% contratado, planeja lucrar com o preço alto, disse.Quem ainda não tem contratos de energia e precisa fechar negócios nos próximos meses também tem sentido os efeitos da seca. Hoje contratos de compra e venda de energia para 2014 estão sendo negociados por cerca de R$ 400 o MWh - reflexo do PLD de R$ 822,23. No fim do ano passado, quando o nível dos reservatórios apresentava trajetória crescente e a previsão de chuvas para janeiro era bastante favorável, era possível contratar energia para entrega em 2014 pagando entre R$ 160 o MWh e R$ 170 o MWh. "O mercado não tinha a expectativa de que o sistema passaria por tal estresse e que janeiro seria seco", disse o sócio-diretor da comercializadora Ecom Energia, Paulo Toledo. No início de janeiro, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) trabalhava com a projeção de que as chuvas do mês seriam de 98% da média histórica no sistema Sudeste/Centro-Oeste. Mas a atuação de uma massa de ar quente e seca nas Regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste impediu o avanço de frentes frias, provocando seca e temperatura elevada. Por isso, o volume de chuva real para janeiro ficou bem abaixo do previsto, em 54% da média histórica.A combinação de chuvas escassas e consumo alto levaram ao esvaziamento dos reservatórios das principais hidrelétricas do País. Hoje, as represas das usinas do Sudeste/Centro-Oeste estão no nível mais baixo desde 2001, ano em que o governo decretou racionamento.A situação não deve melhorar este mês, porque as chuvas devem ser fracas, próximas a 42% da média histórica. Salazar afirmou que a liquidez do mercado livre para operações no curto prazo não foi comprometida. "O agente descontratado, seja gerador, consumidor ou comercializador, continua comprando energia."O desaquecimento dos negócios foi sentido na busca por contratos de médio e longo prazos. O presidente da Comerc, Cristopher Vlavianos, diz que a energia para 2015 já está sendo vendida entre R$ 180 o MWh e R$ 200 o MWh. Antes crise, os preços estavam entre R$ 135 o MWh e R$ 140 o MWh.

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