PUBLICIDADE

Com adidos, setor de carnes espera reduzir barreiras

Por Tatiana Freitas
Atualização:

Em alguns meses, o Brasil ganhará uma nova ferramenta na batalha contra barreiras às exportações do agronegócio. Adidos agrícolas selecionados pelo governo serão integrados a oito embaixadas brasileiras localizadas em mercados-chave para o agronegócio nacional com a tarefa de tentar reduzir os entraves ao comércio de produtos agrícolas. No caso das carnes (bovina, suína e de frango), existe hoje um mercado de aproximadamente US$ 20 bilhões fechado para o País devido, principalmente, a barreiras sanitárias, difíceis de questionar na Organização Mundial do Comércio (OMC).Barreiras não-sanitárias, como a imposição de tarifas ou cotas de importação, são debatidas em painéis abertos na OMC, que ao final do processo emite um parecer sobre as partes, com a possibilidade, inclusive, de penalidade ao infrator das regras de comércio internacional. Já as barreiras sanitárias são tratadas no âmbito do Comitê de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da OMC, cujo presidente pode apresentar uma reclamação ao país que as impõe. Mas não há um julgamento como ocorre nos painéis da OMC. Logo, o cumprimento da recomendação do órgão acaba se arrastando com o passar do tempo."A abertura de mercados que estão fechados por questões sanitárias exige muita diplomacia e insistência. Essa é a grande vantagem de ter um adido agrícola. Ele estará lá (no exterior) o tempo todo para cuidar dessa agenda", afirmou o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Celio Porto. "O diálogo direto com as autoridades locais, até para esclarecer questionamentos de rotina, é muito importante", acrescentou.Os adidos estão hoje em São Paulo para reuniões com representantes dos exportadores de carne bovina, suína e de frango, de açúcar e álcool e de soja, para conhecer as prioridades de cada setor. Ainda esta semana, eles ouvirão os pleitos dos produtores de laranja, café e frutas. Na quinta-feira, visitarão o Porto de Santos para conhecer a realidade dos embarques dos produtos brasileiros. E, assim que for publicada a nomeação dos adidos no Diário Oficial da União, embarcam para uma temporada de quatro anos nos Estados Unidos, Japão, União Europeia (Bélgica), Rússia, Suíça (OMC), Argentina, China e África do Sul.Segundo Celio Porto, a principal recomendação dos exportadores de carne bovina, com quem os adidos se reuniram nesta manhã, é para que trabalhem pela abertura de mercados relevantes e que hoje estão fechados ao País. O principal deles é o Japão, que importou o equivalente a US$ 6 bilhões em carne bovina e suína em 2008 - mas nada procedente do Brasil, por conta de restrições sanitárias. Os Estados Unidos, que compraram US$ 3,5 bilhões em carnes do exterior no mesmo ano, apresentam o mesmo argumento para não importar produtos brasileiros. "México, Coreia do Sul e Canadá também são mercados acima de US$ 1 bilhão fechados em razão da ocorrência de febre aftosa no País em 2005", afirmou Porto.O papel dos adidos, segundo ele, será insistir para que esses países reconheçam o status brasileiro de livre de febre aftosa com vacinação, confirmado pela Organização Mundial de Saúde Animal. "Como essas nações fazem parte da Organização, têm de reconhecer o status sanitário brasileiro", disse. De acordo com Porto, esse processo está "bem avançado" com os Estados Unidos, que devem reconhecer apenas Santa Catarina, que tem o status livre de aftosa sem vacinação, e com a Coreia do Sul.Barreiras tarifáriasOutro pedido apresentado pelos exportadores de carnes aos adidos refere-se ao sistema de cotas da Rússia. Hoje, o Brasil exporta frango para os russos dentro de uma cota geral, equivalente a apenas 5% do total. Estados Unidos e UE têm prioridade na distribuição das cotas russas. A cota geral no mercado de suínos é de 40%, sendo 60% dividida entre EUA e UE.No caso dos bois, o Brasil obteve uma vitória no ano passado. A cota geral passou de 17% da cota global para 85% este ano. "Lutaremos pela ampliação da cota livre para outros mercados, a exemplo do que ocorreu na carne bovina", diz Porto, que participou hoje de almoço promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Carne (Abiec), em São Paulo.O presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Francisco Turra, confirma que os adidos do Brasil na Rússia e UE devem receber mais pedidos do setor. "Ter representantes nos principais mercados de exportação é um marco para a agricultura brasileira", comemora o dirigente. Essa é a primeira vez que o Brasil terá adidos agrícolas, após um debate de décadas sobre o tema.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.