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Com alta do dólar, rentabilidade dos multimercados bate recorde em 2015

Aposta na alta da moeda americana e em investimentos no exterior garantiu à categoria um retorno acima do CDI e de fundos conservadores

Por Yolanda Fordelone
Atualização:

Em um ano de fraqueza do mercado acionário e incerteza na economia, os fundos multimercados ignoraram o cenário pessimista e alcançaram um desempenho melhor até do que os fundos conservadores que acompanham a alta do juro. As subcategorias macro e multiestratégia, as de patrimônio mais elevado entre os multimercados, tiveram o maior retorno semestral desde a sua criação, há seis anos. A explicação para o resultado vem de duas frentes: a aposta na alta do dólar e em investimentos no exterior. "Existia quase uma unanimidade no mercado de que o dólar iria subir. Muitos gestores adotaram essa estratégia, o que deu certo", diz o gerente executivo de fundos multimercado e offshore do Banco do Brasil, Marcelo Pacheco. Os fundos macro e multiestratégia, que tiveram a melhor rentabilidade entre os multimercados, apostaram nessa alta.

"O que acabou distinguindo quem foi um pouco melhor ou pior dentro da categoria foi quem estava mais ou menos exposto ao câmbio", explica o superintendente de gestão de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal, Marcelo de Jesus. A rentabilidade foi garantida sobretudo neste ano. "Em 2014, até por conta das eleições e de uma indefinição do cenário, tivemos cerca de sete meses de retorno abaixo do CDI. Em 2015, a rentabilidade foi excepcional", comenta o superintendente executivo de fundos da Santander Asset Management, Eduardo Castro. A aposta no dólar, que subiu 17,10% no primeiro semestre, garantiu que, na média, os fundos macro e multiestratégia superassem o CDI (taxa que baliza algumas aplicações em renda fixa) no acumulado de 12 meses. No período, o retorno dos macros foi de 17,34% e o dos multiestratégias, de 15,13%, contra um CDI de 11,8%. No ano, o macro rendeu 11,02%, quase o dobro dos fundos DI (6,01%), segundo dados da Anbima. Fundos de investimento no exterior, aplicação que pode compor até 20% das carteiras dos multimercados, também ajudaram no desempenho. A categoria avançou 38,81% em 12 meses, perdendo apenas para os fundos cambiais (40,34%). "Essa estratégia vai ser incrementada e vai continuar sendo uma boa tática", diz Pacheco. A partir de outubro, entram em vigor as instruções 554 e 555 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que permitem que o limite de 20% de investimento dos multimercados em ativos no exterior suba para 40%. Novas estratégias. Com o dólar caminhando de lado atualmente, gestores terão de inovar para continuar com uma boa rentabilidade na carteira. "Há dois grupos: os fundos que olham o longo prazo permanecem com posições menores em dólar; outro grupo tenta prever qual vai ser a nova tendência. Há uma discussão forte em torno da renda fixa, mais do que em moedas", diz Castro. A renda fixa no Brasil e no exterior pode ser a nova aposta dos multimercados no segundo semestre. No Brasil, a expectativa é que a Selic suba mais um pouco até o fim do ano. Atualmente, a taxa básica de juro brasileira está em 13,75%. No mundo, o juro deve avançar influenciado por uma possível alta da taxa nos EUA. Ainda que o juro lá fora seja mais baixo do que o do Brasil, no exterior o mercado de títulos privados, inclusive de empresas brasileiras, tem mais liquidez, garantindo alguns bons negócios aos fundos.Captação negativa. O bom desempenho dos multimercados fez com que alguns investidores sacassem os recursos. Os macros têm resgate líquido (aplicações menos saques) de R$ 8,2 bilhões em 12 meses e os multiestratégias, de R$ 8 bilhões. Segundo os gestores, trata-se de uma questão de prioridade: investidores tiraram o dinheiro de onde já haviam obtido ganhos consideráveis. Pesa na decisão o fato de a renda fixa estar oferecendo retornos cada vez mais atrativos. "Se ele consegue uma rentabilidade de 12% ao ano em algo conservador porque vai correr risco", questiona Marcelo de Jesus. Os fundos multimercados, porém, seguem atrativos para quem pensa em diversificação ou em aplicar no médio e longo prazos, acima de um ano. Especialistas só recomendam a aplicação se o investidor tiver propensão ao risco, pois a volatilidade é alta, principalmente entre os multiestratégias, que seguem diversas táticas. Também é recomendado conhecer a estratégia e o risco do fundo escolhido, pois a categoria dos multimercados é conhecida por ser a com maior dispersão de apostas na indústria de fundos.

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