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Com alta no preço de alimentos, Copom interrompe ciclo de cortes e mantém Selic em 2% ao ano

Decisão acontece depois de nove reduções seguidas na taxa básica de juros da economia, que está em seu nível mais baixo

Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA - Após nove cortes consecutivos, o Banco Central decidiu manter a Selic (a taxa básica de juros) em 2% ao ano nesta quarta-feira, 16. Em meio aos esforços do governo para recuperar a economia após o choque trazido pela pandemia do novo coronavírus, o BC paralisou o processo de baixa de juros, iniciado em julho de 2019, para evitar eventuais efeitos negativos sobre o mercado financeiro. Para os próximos meses, apesar da pressão recente do arroz sobre a inflação, a autarquia indicou que não pretende elevar a Selic e, ao mesmo tempo, avaliou que o espaço para mais cortes é pequeno.

O Banco Central já vinha indicando que a taxa Selic deveria ser mantida estável. Foto: Andre Dusek/Estadão - 14/10/2014

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A decisão desta quarta era largamente esperada pelos economistas do mercado. Isso porque no início de agosto, quando cortou a Selic pela última vez, o BC já havia indicado a intenção de parar em setembro. A visão é de que uma Selic a 2% ao ano – o menor nível da série histórica – deixa pouco espaço para novas reduções. Há a preocupação de que uma taxa muito baixa possa afetar o funcionamento dos mercados de câmbio e de fundos de investimento. 

De um total de 48 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, todas esperavam pela manutenção da Selic em 2,00% ao ano nesta quarta. Para 43 das 48 casas que enviaram estimativas, o mais provável é que o ciclo de reduções da taxa tenha, de fato, se encerrado em agosto.

Com a Selic a 2% ao ano, o Brasil segue com juro real (descontada a inflação) negativo. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está em -0,81% ao ano. O País possui o 16º juro real mais alto do mundo, considerando as 40 economias mais relevantes. No topo do ranking está a Turquia, com juro real de +3%. 

No comunicado que acompanhou a decisão de hoje, o BC avaliou que a retomada da atividade nas principais economias do mundo tem gerado um ambiente “relativamente mais favorável” para os países emergentes. “Contudo, há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário, frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia da covid-19”, pontuou o BC.

Ao tratar da atividade econômica no Brasil, o BC afirmou que os indicadores recentes sugerem uma “recuperação parcial, similar à que ocorre em outras economias”. A autarquia ponderou que os setores mais afetados pelo distanciamento social “permanecem deprimidos, apesar da recomposição da renda gerada pelos programas de governo”. Além disso, o BC voltou a defender a importância das reformas e do controle fiscal no País.

Inflação

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Sem citar especificamente o arroz – produto que vem sendo apontado como o vilão para os preços nas últimas semanas – o BC afirmou que a inflação deve se elevar no curto prazo. Além da alta nos alimentos, contribui para isso, conforme a autarquia, a “normalização parcial do preço de alguns serviços”, passada a fase mais intensa de isolamento social.

Ainda assim, o BC trabalha com uma inflação em níveis controlados. No cenário que utiliza câmbio fixo e projeções do mercado financeiro para os juros, a autarquia alterou sua estimativa para o IPCA – o índice oficial de preços – em 2020 de 1,9% para 2,1%. No caso de 2021, a expectativa caiu de 3,0% para 2,9%.

Para o superintendente de Pesquisa Macroeconômica do Santander Brasil, Maurício Oreng, a tendência é de que a Selic fique estacionada em 2% ao ano “por muito tempo”. “Enquanto o regime fiscal e a inflação se mantêm, enquanto tivermos projeções abaixo da meta, o BC não vai subir juros”, disse./COLABOROU ALINE BRONZATI

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