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Com arrecadação maior, governo aumenta gastos, diz Velloso

Para economista especialista em contas públicas, governo poderia aproveitar para aumentar superávit primário

Por Luciana Xavier e da Agência Estado
Atualização:

O governo está perdendo a chance fazer um superávit primário maior diante da arrecadação mais forte da Receita Federal e com isso ficar mais preparado para tempos de vacas não tão gordas, disse nesta segunda-feira, 30, o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas e ex-secretário de assuntos econômicos do Ministério do Planejamento. Veja também: Setor público tem superávit nominal até maio pela 1ª vez "O governo poderia aproveitar a arrecadação recorde para um aumento expressivo do superávit. Mas parece que o governo tem outras idéias em mente e prefere usar a folga para aumentar gastos", criticou em entrevista à Agência Estado. Segundo o economista, o trabalho pesado de combater a inflação continua nas costas do Banco Central, pois o governo não faz sua parte de cortar gastos. "O BC está sendo forçado a subir o juro porque o setor público continua crescendo muito. Não há indícios de que o governo queira ajudar o BC. Um dia o governo diz que vai colaborar e no outro, aumenta os gastos. Como o governo não ajuda, o BC tem que subir os juros, isso prejudica os investimentos e desacelera o crescimento. É chocante que o governo não perceba isso", afirmou. Segundo ele, havia uma proposta de limitar o aumento das despesas com pessoal a 1,5% mais inflação, mas o projeto de lei parece ter caído no esquecimento. "O governo parou de brigar pela aprovação disso", disse. Se houvesse contenção nas despesas com pessoal, Velloso disse que o superávit primário poderia ser perto de 5%. Ele disse ainda que a poupança fiscal extra de 0,50 ponto porcentual do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, por meio de um Fundo Soberano do Brasil (FSB), que levaria a meta do superávit primário de 3,8% para 4,3% do PIB, se deve em grande parte ao aumento da arrecadação. Arrecadação O crescimento recorde da arrecadação após a perda da CPMF foi "a grande surpresa deste ano" na avaliação de Velloso. Fora isso, o resultado do setor público de maio, cujo superávit primário foi de R$ 13,207 bilhões, está dentro do esperado. A arrecadação recorde, ressaltou, se deve à lucratividade maior de alguns setores e também ao aumento expressivo das importações. Segundo Velloso, essa arrecadação recorde pode não ser sustentável, tendo em vista que a alta de juros poderá levar a uma desaceleração do crescimento e investimentos. As despesas do governo central acumulam de janeiro a maio deste ano um crescimento de 9,14% em relação ao mesmo período do ano passado. As despesas nos cinco meses totalizaram R$ 181,313 bilhões. Velloso criticou a proposta de criação da Contribuição Social para a Saúde (CSS) no lugar da CPMF. "A CSS não é necessária nem adequada par ao momento", disse. Segundo o economista, "está difícil para o governo justificar a necessidade esse imposto".

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