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Com coronavírus, confiança do consumidor volta ao nível de janeiro de 2017

Para especialista da FGV, crise sem precedentes dificulta estimar extensão dos danos

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO – A pandemia de coronavírus já abalou significativamente a confiança do consumidor brasileiro apenas nos primeiros dias de agravamento da disseminação da covid-19 no País. Por se tratar de um episódio sem precedentes, ainda não é possível estimar a profundidade das consequências que essa nova crise terá sobre o indicador de confiança nos próximos meses, disse Viviane Seda Bittencourt, coordenadora das Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Confiança do consumidor foi abalada pela pandemia do novo coronavírus em março. Foto: Tiago Queiroz/ ESTADÃO

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“A gente não tem nenhuma comparação com o que está acontecendo agora, desde a criação do indicador, em 2005. Não sabemos o quanto ele pode cair ainda, nem qual patamar ele pode atingir”, disse Viviane.

A confiança do consumidor recuou 7,6 pontos em março ante fevereiro, na série com ajuste sazonal, para 80,2 pontos, o menor patamar desde janeiro de 2017. Apenas nos três primeiros meses de 2020, a confiança do consumidor já acumulou uma perda de 11,4 pontos. Na leitura de março, o recuo foi mais profundo, embora dois terços da coleta de dados para a pesquisa terem ocorrido antes das medidas de restrição à circulação de pessoas. Apenas um terço da coleta foi realizado depois que a disseminação do vírus eclodiu no País.

“O impacto sobre o mês de abril vai ser mais forte”, previu Viviane.

Em março, houve deterioração tanto nas avaliações sobre o presente quanto nas expectativas para os próximos meses. O Índice de Situação Atual (ISA) diminuiu 4,8 pontos, para 76,1 pontos. Já o Índice de Expectativas (IE) caiu 9,3 pontos, para 83,9 pontos, o menor patamar desde dezembro de 2016.

Entre as capitais do País, o Rio de Janeiro registrou a maior queda na confiança. Em São Paulo, os consumidores também já perceberam a piora da situação atual, possivelmente em função do maior número de casos e pela magnitude do parque fabril. Para a coordenadora do Ibre/FGV, o cenário para os próximos meses é preocupante, devido ao forte impacto econômico e social, com queda no Produto Interno Bruto e aumento do desemprego.

Entre os componentes do ICC, o item que mede as expectativas sobre a economia para os próximos meses foi o que mais contribuiu para a queda da confiança, com um tombo de 12,0 pontos, para 104,9 pontos. Com o cenário econômico mais difícil nos próximos meses, os consumidores também preveem redução da oferta de empregos e uma piora da situação financeira das famílias. O componente que mede as perspectivas sobre as finanças familiares piorou pelo terceiro mês consecutivo, com queda de 7,0 pontos, para 92,2 pontos. O ímpeto para consumo de bens duráveis diminuiu em 7,6 pontos em março, acumulando perda de 25,0 pontos em 2020.

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Houve piora na confiança entre os consumidores de todas as classes de renda, puxada pelo aumento do pessimismo em relação à situação econômica nos próximos meses, exceto para as famílias de menor poder aquisitivo, que recebem até R$ 2.100 mensais e cuja queda de confiança foi influenciada pela redução na intenção de compras (-9,9 pontos).

“A queda na confiança ainda não foi tão forte na faixa de renda 1 (famílias com renda até R$ 2.100 mensais), porque essas pessoas se mantinham trabalhando, mesmo os que estavam na informalidade, porque eles precisavam continuar trabalhando para gerar renda. Então o isolamento ainda vai impactar a avaliação deles”, previu a coordenadora do Ibre/FGV.

A Sondagem do Consumidor coletou informações de 1.713 domicílios em sete capitais, com entrevistas entre os dias 2 e 19 de março.

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